Revolta do Buzu – Treze anos e dois reais e trinta centavos depois



Em 2003, a maioria deles era adolescente e parou a cidade por conta do aumento da tarifa de ônibus. Treze anos depois, participantes da Revolta do Buzu discutem o transporte público 

Luta, festa ou ainda um inferno de ruas travadas. A Revolta do Buzu, protagonizada por estudantes entre agosto e setembro de 2003, contra o aumento da tarifa de ônibus de R$ 1,30 para R$ 1,50, pode ser vista de várias perspectivas, dependendo de onde se estava na época. Como fato histórico, porém, algo é consenso: foi uma das mais relevantes manifestações recentes no Estado, junto com o Maio Baiano, como foi apelidado o protesto pela cassação do então senador Antônio Carlos Magalhães, que terminou em bombas de gás e feridos no Vale do Canela, em 2001. Treze anos depois, a passagem custa R$ 3,60 – foi reajustada no último dia 2 por determinação do prefeito ACM Neto, após estudos realizados pela Agência Reguladora e Fiscalizadora de Serviços Públicos de Salvador (Arsal), que apontaram a necessidade do aumento do valor anterior, R$ 3,30. A mudança no preço ocorre na esteira do que aconteceu em outras capitais como São Paulo (onde, até o fechamento desta edição, o valor permaneceu o mesmo, R$ 3,80, por determinação judicial) e Brasília (que passou de R$ 3 para R$ 3,50 nas linhas curtas e de R$ 4 para R$ 5 nas linhas de longa distância e metrô).

Do ponto de observação do mestre em história Virgílio Sena, 31, a vista era privilegiada: a partir da sacada da Câmara, tinha em frente o mar de estudantes que dominou a Praça Municipal. Fardas, cabelo ao vento, gente jovem reunida. Uma foto no jornal chegou a registrar esse momento: de punho erguido, ele grita na janela do prédio público, que fora tomado durante os protestos. “Essa foto é justamente no dia da maior manifestação, porque havia uma negociação em curso para que o prefeito recebesse os estudantes. O prefeito se negou, e como a gente não tinha acesso à prefeitura, algumas pessoas resolveram invadir a Câmara. Eu gritei ‘Passe Livre já!‘”. Aos 18 anos, cursava o 2º ano do ensino médio do Colégio Iceia, no Barbalho, e era integrante do coletivo que se tornaria o grêmio da escola – e ele, vice-presidente. Defende que foi o Iceia que iniciou as ações, com uma passeata no dia 22 de junho, com cerca de 200 pessoas. 

Virgílio ri com as reminiscências, mas demonstra que a revolta não era, para ele, uma brincadeira adolescente, tendo impacto em sua vida até hoje. “Acho que eu fiquei mais convicto dos meus ideais ao longo dos anos, mas sem dúvida, a Revolta do Buzu foi definitiva para as minhas escolhas. Como sujeito, como ativista político, em defesa de uma sociedade justa, igual, onde mulheres e homens possam ter os mesmos direitos; onde todo ser humano possa ter uma vida digna e justa; onde a juventude possa caminhar sem medo de ser exterminada pelo Estado genocida”. Quanto aos ônibus, ainda é um meio de transporte que utiliza, mas o número de opções ampliou. “Eu utilizo quase todos: carro, ônibus, metrô, caminho, ando de bicicleta. Mas continuo um defensor de um transporte público efetivo”. 

Ele acompanhou outros protestos grandes ocorridos em Salvador, como a Revolta do Buzu 2011 (a passagem aumentou de R$ 2,30 para R$ 2,50, na gestão João Henrique Carneiro) e o Movimento Passe Livre (MPL), em 2013 (realizada em solidariedade a protestos sediados em São Paulo após um aumento da tarifa de R$ 3 para R$ 3,20), mas enxerga uma perda de fôlego ao longo do tempo. “A ascensão de governos muito próximos aos movimentos estudantis provocou a incorporação dessas entidades. Isso diminuiu a capacidade de mobilização”.

Controvérsias

O encontro entre a prática política e a política partidária já gerava fagulhas. Uma comissão composta por membros de associações estudantis fechou acordo com o então prefeito Antônio Imbassahy, mas a decisão de parar o levante não foi atendida prontamente: muitos não se viam representados pelo grupo e julgavam que o movimento não tinha líderes. “Acho que o grande problema daquela comissão é não ter estabelecido um debate com os estudantes. Ela tomou uma posição a partir dessas entidades, que eram divididas por grupos e organizações à época, que inclusive são próximas ao governo estadual, a determinados governos; e essas organizações, em alguma medida, tomaram posições equivocadas, que não representavam o sentimento da maioria”, aponta Virgílio. “Enquanto do lado de fora os estudantes falavam em passe livre, e essa era a pauta que não tinha negociação, do lado de dentro a simples possibilidade do uso do cartão de meia representou uma vitória para essas entidades estudantis”. 

Autor do que acabou sendo o registro mais completo do movimento, o cineasta argentino Carlos Pronzato observou de perto as controvérsias: de um lado, a espontaneidade dos estudantes, alguns com 12, 13 anos; de outro, a articulação de entidades, em uma tentativa de orientar o carnaval. “Há uma série de informações que dão conta de reuniões prévias ao início das mobilizações e inclusive alguns tímidos protestos. Mas a grande sacada foi justamente as intensas reclamações por parte da maioria dos estudantes quando alguém queria impor rumo às marchas ou às perspectivas do dia seguinte”, conta Pronzato, lembrando que só eram aceitos porta-vozes que mudavam constantemente. “Era uma perspectiva muito contemporânea e mundial do fazer político. Tudo era decidido em assembleias, até que elas começaram a perder força pelo esvaziamento das ruas e esgotamento da população”. 

Em seu documentário, A Revolta do Buzu, é possível ver a insatisfação de estudantes com a participação da comissão ou com a condução de uma ou outra assembleia na qual o microfone não circulou muito. Um dos membros do grupo que negociou a pauta de reivindicações, Marcelo Gavião, 31, reconhece os questionamentos, mas aponta que os estudantes não se organizaram espontaneamente. “Tem três pessoas que acho que tiveram um papel destacado, que organizavam manifestações, combinavam palavras de ordem, os principais atos. Eu participei com bastante destaque, mas teve também Roque Peixoto, lembro que ele era filiado ao PT à época e dirigia a Abes. Tinham duas Abes, uma que era comandada por Nestor Neto e uma por Roque Peixoto. Nós três lideramos a Revolta do Buzu, eu reconheço isso”, afirma, para acrescentar em seguida. “Então essa história de movimento espontâneo… Espontâneo coisa nenhuma. Agora, ele extrapolou muito o poder de organização de liderança de qualquer pessoa. Da metade para o final, qualquer estudante de escola média ou grande paralisava sua escola e conduzia o movimento”, explica.

Ele integrou a comissão que fechou o acordo com Imbassahy para a finalização dos protestos, mediante a aceitação de alguns pontos da pauta de reivindicações. “Foi quando o movimento começou a pegar o caminho de casa. A cidade travava, impactava na economia, na vida dos trabalhadores, os estudantes ficavam sem aula. O movimento começou a perder apoio. Quando isso aconteceu, essas lideranças que eu citei, eu, Roque e Nestor, pensamos: ‘precisamos pensar uma saída’”. O preço da tarifa, que motivou a mobilização, não foi um dos pontos aceitos. Mas houve avanços, como a ampliação do uso do Smart Card (atual Salvador Card), que começou a ser usado aos domingos, feriados e nas férias. Estudantes da pós-graduação também passaram a ter direito ao benefício. 

O trio de “líderes” tinha ligações partidárias: além do PT, ao qual Roque era filiado; tinha o PMDB, na figura de Nestor e o PCdoB, partido ao qual até hoje Gavião pertence e pelo qual se candidatou a vereador. Até aí foi um trajeto longo: ele foi alçado à presidência nacional da União Brasileira de Estudantes Secundaristas (Ubes) em 2005, e teve que se mudar para São Paulo, onde assumiu a presidência nacional da União da Juventude Socialista (UJS). No final de 2010, voltou a Salvador e entrou para a direção nacional do PCdoB, onde ficou por oito anos. Em janeiro de 2015, assumiu a coordenação do SineBahia, órgão vinculado à Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte do Estado (Setre). A candidatura a vereador foi no ano passado, quando obteve 3.321 votos, mas não conseguiu se eleger.

Movimento x articulação

Uma das pontas da “trinca”, Nestor Neto, 35, também ficou conhecido após a revolta e chegou a ser candidato a vice-prefeito na chapa do radialista Mário Kertész nas eleições municipais em 2012, na qual venceu ACM Neto para seu primeiro mandato. “Pudemos apresentar muitas das ideias que a gente tinha no movimento estudantil, só que de um outro lado da trincheira. Não como um estudante reivindicando, parando o trânsito; mas como alguém que poderia apresentar um modelo de gestão para a cidade”. Ele já havia sido postulante a vereador em 2004 (ainda estudante do Colégio Central, onde presidia o grêmio durante a revolta) e em 2008, além de tentar uma cadeira na Assembleia Legislativa da Bahia, em 2006. Na primeira gestão de ACM Neto, chegou a assumir o cargo de diretor geral da Saúde. 

Adotando outra posição no front, ele vê vantagens, como o acesso às estruturas de decisão, e desvantagens, como a restrição da liberdade. “Um estudante não tem acesso ao poder. Seja um prefeito, um vereador, um secretário. Ele tem que fazer um movimento para conseguir uma agenda. E, nessa agenda, dizer o que quer, o que pensa, o que precisa para aquela comunidade. Quando estamos do outro lado da trincheira, trabalhamos com o instrumento da articulação política, que é o trabalho do convencimento do nosso vereador, prefeito, governador, que está naquele partido ou naquela base do governo”. Mas há implicações em estar perto da caixa preta. “Quando você está no movimento estudantil, você fala o que quer, na hora que quer, e ninguém tem nada a ver com isso. E do lado de cá você tem que ponderar, porque, às vezes, pode ser mal-interpretado, ser visto como uma pedra de tropeço, uma figura chata”. 

Após ter exercitado a negociação na segunda comissão que sentou com Imbassahy, Nestor vê na reativação do Conselho Municipal de Transporte uma das maiores conquistas da revolta, por proporcionar maior participação e “transparência” no debate do tema. “Inclusive, nós encomendamos, na época, um estudo à Fundação Getúlio Vargas para identificar os insumos que compunham a tarifa e qual o peso daquele processo”. 

Hoje, ele vê tarefas que ainda restam a ser cumpridas: acha que, por exemplo, o conselho poderia ser “mais amplo e mais aberto”. “Para que a sociedade possa saber efetivamente o que está pagando. Porque o problema não é aumentar a tarifa, é saber se esse valor é correto, é coerente”. Outra observação diz respeito à cultura empresarial do setor. “São arcaicos, é [uma visão] de predador mesmo, uma visão romana da coisa, de ocupação. Acho que eles precisam ter uma visão de Alexandre [O Grande], de ocupar o espaço, mas ajudar a explorar, no sentido de levar o desenvolvimento, o crescimento”.

Licitação

Ao longo dos 13 anos que separam a atual tarifa e o preço das passagens à época dos protestos, o aumento foi de R$ 2,30, uma elevação de quase 64%. Nesse intervalo, as mudanças foram estabelecidas a partir de nove reajustes: em 2003, o bilhete passou a custar R$ 1,50, valor que permaneceu até 2005, quando foi a R$ 1,70. Dois anos depois, outro aumento, chegando à marca dos R$ 2 e inaugurando um novo modus operandi: os anúncios passaram a ser feitos em janeiro. Em 2009, a tarifa alcançou os R$ 2,20, e até 2012, os avanços foram anuais: R$ 2,30 (2010); R$ 2,50 (2011); R$ 2,80 (2012). Uma pausa mais longa, e em 2015, dois anos após a licitação do sistema de transporte coletivo, o preço bateu os R$ 3. Em 2016, foram mais 30 centavos e este ano, mais 30, chegando finalmente aos R$ 3,60.

De acordo com o anunciado em dezembro pelo prefeito ACM Neto, os reajustes passam a ser anuais, por determinação contratual. Os estudos da Arsal, cujos resultados só saíram no último dia 1º, um dia antes do aumento entrar em vigor, apontaram um custo de R$ 3,58, valor que foi arredondado para R$ 3,60. A variação corresponde à correção da inflação do período. De acordo o secretário municipal de Mobilidade, Fábio Mota, se no cálculo a ampliação for de cinco centavos, a aproximação é feita para o valor menor – daí em 2016 o preço ter se mantido em R$ 3,30. “Se tiver inflação, tem aumento, se não tiver, não tem”. 

Com a licitação do sistema de transporte coletivo, a primeira realizada na capital baiana, três consórcios se reúnem sob a bandeira “Integra” e se dividem na prestação do serviço, em regiões de atuação: o Plataforma atende as linhas do Subúrbio Ferroviário e Cidade Baixa; a OT Trans abrange o “miolo”; e o Salvador Norte fica responsável pela orla. Cada consórcio acabou agrupando empresas que já atuavam na cidade: Joevanza, Axé, Boa Viagem e Praia Grande estão no Plataforma. O OT Trans alia operadoras como União, Expresso Vitória, Capita, entre outras. O Salvador Norte agrega BTU, Verdemar, Ondina e Rio Vermelho. 

“Antes, você tinha permissão; era completamente precária, sem regras, sem direitos e deveres”, observa o secretário. Entre as obrigações do contrato estão a redução do tempo médio de frota, que passou de 11 para quatro anos; a padronização externa dos veículos (os coletivos da orla são azuis, os do miolo, verdes e os do subúrbio, amarelos); a utilização do diesel no padrão Euro 5, que reduzem o consumo e são menos poluentes; a adaptação dos ônibus às regras de acessibilidade; o uso de ventilação forçada e a adoção do GPS em todos os veículos. Esta última mudança permite o monitoramento da frota no Centro de Controle Operacional (CCO), que fica na sede da Secretaria Municipal de Mobilidade (Semob) e resultou na criação do aplicativo CittaMobi, pelo qual o usuário pode verificar os horários dos ônibus em relação ao ponto, além de interagir com sugestões, críticas e denúncias. “É 100% [a cobertura do GPS nos coletivos]. Hoje, são 1,1 milhão de pessoas no aplicativo, é recorde nacional. Exigimos que se colocasse GPS em todos os ônibus, georreferenciamos todos os pontos”, afirma Mota. 

O secretário cita também o Bilhete Único, que possibilita pagar o valor de uma passagem para pegar dois ônibus no intervalo de duas horas (atualmente, o sistema inclui o metrô); o Domingo é Meia, que como o nome sugere, institui a meia passagem aos domingos e a ampliação dos postos de atendimento do Salvador Card. “Uma das pautas daquela época era que o Salvador Card só tinha três pontos de recarga: era uma fila enorme no Comércio e outra na Lapa. Exigimos que os pontos saíssem de três para 53. Tem em todas as prefeituras-bairro, em todos os shoppings da cidade e nos campi universitários”. 

Mota ainda respondeu a dois pontos sempre questionados quando se trata do certame, válido por 25 anos. Um deles é a ausência de ar-condicionado, prometido pelo prefeito, mas hoje restrito ao “Connect Bus”, frota de ônibus executivo que conta também com Wi-Fi. O preço do conforto: R$ 5,30 (após o reajuste). Segundo o titular da Semob, os condicionadores de ar chegarão aos ônibus comuns com a implantação do BRT (Bus Rapid Transit). “O BRT tem capacidade três vezes maior que o ônibus normal (…). O custo operacional é menor”, explica, citando as tarifas de outras capitais como São Paulo (R$ 3,80), Rio de Janeiro (R$ 3,80) e Belo Horizonte (R$ 4,05), todas com subsídio. “Preferimos investir para melhorar a saúde, a educação, obras de infraestrutura do que pegar o dinheiro público e botar no investimento privado. Quem banca são os empresários”, aponta. “Brasília também tem um subsídio pesado e Salvador é quem tem a tarifa menor das cinco”. 

Engajamento

Uma das poucas lideranças femininas da Revolta do Buzu, a socióloga Daniele Costa, vê modificações no transporte coletivo, mas ainda acha o sistema insuficente. “Principalmente para periferia. Para o povo de Salvador, o transporte coletivo ainda é muito precarizado. Recentemente, houve uma mudança e foram retiradas as principais linhas que ligam a periferia às áreas mais turísticas”, reclama, citando a integração entre terminais e a Barra, que retirou linhas diretas para o bairro praiano vindas de outras localidades. “Quem mora em Marechal Rondon, por exemplo, antes tinha uma linha que ligava diretamente à Barra. Hoje, vai até a Estação Pirajá para poder pegar outro ônibus”. 

Ela cita também o tempo de espera nos pontos. “Ainda se demora muito”. Na época em que participou da Revolta do Buzu, Daniele morava no bairro Cidade Nova. Como não existia linha direta para ir à faculdade, em Ondina, sempre tinha que pegar dois ônibus na ida e caminhar um bom trecho na volta, à noite. “Eu tinha que pegar um ônibus, saltar na Baixa de Quintas e de lá ir andando até o bairro onde eu morava”. Assim como Nestor Neto, Daniele aponta a relação entre a iniciativa privada e o serviço público nessa balança. “Os empresários só fazem qualquer investimento com um grande retorno lucrativo. E isso se reflete no aumento das tarifas”, critica. 

Na época da revolta, ela já cursava Ciências Sociais e acabou indo militar no PCdoB, onde permanece. Assim como todos os participantes, tem sua versão do início do movimento. “Eu era diretora da UNE e estava em uma delegação baiana em Brasília com outras lideranças do movimento estudantil, e nisso começamos a conversar: ‘vai aumentar a tarifa em Salvador, isso precisa ser uma pauta nossa, porque isso prejudica a vida do estudante, principalmente do estudante pobre”. 

Na volta da viagem, uma plenária reuniu grêmios e diretórios acadêmicos para organizar a mobilização. Daniele também cita a dimensão que os atos tomaram, crescendo de forma espontânea a partir das primeiras convocações. “A primeira manifestação nunca é a grande passeata. A internet não era o principal meio de comunicação, a gente não tinha a agilidade que hoje existe”. Ainda sobre a formatação da Revolta do Buzu, ela foi a única a pontuar a força da participação das mulheres, numerosas entre os “anônimos”, mas poucas nas posições de destaque. “Embora nós fôssemos a maioria no movimento estudantil, nós não éramos nas entidades estudantis. Tanto que na época eu era a única diretora de uma entidade”, lembra. 

Anônimos com voz

Por falar em quem estava sem nome no meio da multidão que ocupava as ruas naquele momento, o contador Thales Silveira, 27, era um dos milhares de estudantes que estiveram nos protesto – foram eles, afinal, que tomaram os espaços, bloquearam as vias e fizeram a força do movimento. Aluno da 8ª série do Colégio Maristas, chegou a ir em três manifestações. “Tinha um pessoal do colégio que organizava. Como a gente ficava ali próximo do [Colégio Estadual] Manoel Novaes; o Campo Grande era um grande foco de paralisação dos ônibus, aí depois da aula (estudava de manha), eu ia”, conta. 

Ele guarda lembranças vívidas da relação entre a polícia e os estudantes, que ao contrário do “Maio Baiano”, reagiu com muito menos truculência. “Na hora que o pessoal estava negociando com a polícia, subiu um pouco mais os ânimos. Depois de um ou dois dias de problema maior, a polícia estava calminha. Eu lembro bastante dessa imagem, na frente do Campo Grande. Pelo outro lado, Thales discordava da ala mais radical, que queria atos como quebrar vidros e pintar os coletivos.

Sócio de um escritório de contabilidade, ele leva uma vida no estilo 8h às 18h, o que o afasta, por dever do ofício, de estar mais engajado nas mobilizações. Apesar dos impedimentos, não vê diferenças essenciais entre o Thales de 2003 e o de hoje. “Acredito que tenho um pouco mais de dinheiro, para fazer uma viagem e não comer mais tanto miojo”, brinca. Se tem uma brecha, vem o ímpeto juvenil: esteve nas manifestações que contestou gastos da Copa do Mundo, em 2014, e em uma das passeatas contra a corrupção. “Mas foi tomando um rumo político demais, deixei de ir”. Com algumas mudanças, aquele menino está vivo ainda lá. 

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