Jornal Correio: Na hora da blitz, motoristas são contra a aplicação de penas severas

O comerciante João Sansão, 41 anos, tomou uma e caiu nas garras da blitz ontem à tarde, quando trafegava na orla, nas imediações do Circo Picolino. Enquanto assistia o agente de fiscalização emitir a notificação para o carro ser guinchado, ele parecia não entender pra que tanta formalidade só porque ele bebeu uma latinha após o almoço.
João achou um exagero ser multado e ter a carteira e o veículo apreendidos. Mal sabia o comerciante que, se dependesse da opinião da maioria da população de Salvador, sua pena seria bem maior.
Uma pesquisa, realizada pelo Instituto Futura em parceria com o CORREIO e divulgada ontem, mostrou que 79% da população de Salvador é a favor da prisão para quem beber e for flagrado dirigindo. Na prática não é assim que funciona. O estudo, realizado entre 30 de agosto e 3 de setembro, ouviu 601 pessoas na capital baiana.
Assim como João Sansão, quem cai no cerco fechado da blitz tem opinião bem diferente. Ao contrário de prisão, quase todo mundo ouvido pela reportagem disse que a punição deveria ser mais branda, com direito, inclusive, a uma multa com valor mais baixo. “Concordo que quem está alcoolizado deve ser preso, mas não é o meu caso. Isso é pra quem está embriagado. Eu só tomei uma latinha no almoço”, lamentava o comerciante.

Sorte – Turista a passeio em Salvador, o ultrassonografista Cidi Jorge da Silva, 27, escapou por pouco de ser multado e ter a carteira de habilitação e o veículo que ele dirigia apreendidos. O cearense, que veio participar do Congresso de Pediatria na capital baiana, conta que tomou uma dose de uísque no almoço e acabou sendo parado na blitz.
O bafômetro acusou que o nível de álcool no seu sangue era de 0,15 mg/l. Só que deu problema na hora de imprimir o comprovante. Os 40 minutos que ele aguardou até o próximo teste foram suficientes para o nível cair para 0,9, o que lhe livrou de uma autuação. “Ser preso por beber e dirigir é um absurdo. Tem tanta gente que faz coisa pior e não é preso”, lamentou.
A estudante Glaucia Santos, 27, que foi acionada por uma amigo para socorrê-lo após ter o carro retido na fiscalização, diz que não gosta e nem costuma aliar álcool e direção. Mesmo assim, entra na defesa ‘dos bebum’. “Ser preso porque bebeu e dirigiu é uma medida muita exagerada. Sou a favor da prisão apenas para o caso daqueles que se envolvem em acidentes. A multa, por si só já é suficiente”, opina.
Sem prisão  – Não é só quem está na mira da fiscalização que quer pena mais branda para a combinação álcool e direção. Até mesmo um agente de fiscalização da Transalvador, que participava da blitz e não quis se identificar por medo de represália, se mostrou contrário à prisão. “Ter o documento recolhido, o carro apreendido e ainda ser levado para a delegacia é um pouco demais.
Atualmente, até os crimes com menor potencial ofensivo foram liberados e essas pessoas estão convivendo conosco na sociedade. Agora, porque bebeu tem que ser preso? Discordo”, disse o agente.
Já o colega de profissão foi o único ouvido pela reportagem a concordar com o resultado da pesquisa. “Quem bebe e dirige tem que pagar por isso. Se dependesse de mim, a lei seria ainda mais rigorosa. O carro devia passar um tempo apreendido no pátio da Transalvador e o dono obrigado a pagar as diárias”.

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