Blitzes da Lei Seca serão itinerantes a partir de sexta; escapar fica difícil



Foto: Almiro Lopes/Correio



Motoristas beberrões, tremei! Se você se considera hábil em escapar das blitze da Lei Seca, saiba que sua festa tem os dias contados. Não vai mais adiantar beber nos bairros periféricos nem circular por esses locais para fugir das fiscalizações que vêm acontecendo prioritariamente nas avenidas principais da cidade.
A partir de sexta-feira (14), as blitze de alcoolemia vão se tornar itinerantes e, além de acontecer nas grandes avenidas da cidade, serão deslocadas para outros bairros. A princípio, Cabula, Liberdade, Cajazeiras, Ribeira e Bonfim ganharão as fiscalizações, segundo garantiu ontem o diretor da Superintendência de Transito e Transporte de Salvador (Transalvador), Renato Araújo.

“Percebemos que as pessoas estão se deslocando dos bairros centrais onde fazemos as blitze (Rio Vermelho, Bonocô e Paralela, principalmente) para beber nos bairros mais afastados da cidade porque até então as fiscalizações não chegavam até lá. Vamos agora transformar as fiscalizações em postos itinerantes para flagrá-los”, afirma Araújo.
O diretor de trânsito da  Transalvador informou que as equipes irão se deslocar pela cidade na caça dos motoristas infratores. “Quem está acostumado a escapar das grandes avenidas porque sabe que lá tem blitze vai ser pego de surpresa. Os postos não serão fixos. As equipes vão se deslocar para cada bairro afastado da cidade, mesmo que isso cause danos ao fluxo do trânsito”, alerta.
Questionado sobre se o contingente de fiscalização será suficiente para fazer os deslocamentos, Araújo reconhece as limitações. “Precisaríamos de um exército para fiscalizar os imprudentes. Hoje contamos com três equipes da Transalvador com dez profissionais em média trabalhando em cada ponto”, diz.

Fiscalização
Desde quando voltaram a ser realizadas em Salvador, em 23 de setembro, as blitze acontecem em três dias apenas. Sextas e sábados das 22h às 4h e aos domingos das 16h às 22h.

Mas quem coordena o horário do final da bebedeira com a desmontagem das blitze também precisa se preparar. A Transalvador pretende ampliar os horários até o final desse mês. “Iremos fazer as fiscalizações não apenas nos horários noturnos. Haverá blitze de alcoolemia pela manhã e pela tarde nos finais de semana, pois identificamos que há um número grande de condutores que condicionam o fim do álcool com o horário das blitze.Estamos esperando só o posicionamento do Detran e da Polícia Militar para ampliar isso”,  disse Araújo.
A decisão de prorrogar a abrangência das fiscalizações  acontece um dia após um motorista invadir um ponto de ônibus, matar um homem de 60 anos e atropelar outros dois, na avenida Bonocô.  O motorista se recusou a fazer o teste do bafômetro.
Balanço
Pelo atual código de trânsito, o motorista que fizer o teste do bafômetro e tiver no sangue uma concentração entre 0,1 e 0,29 mg de álcool por litro de sangue paga multa de R$ 957,70, tem o veículo apreendido e o direito de dirigir suspenso pelo período de um ano. Já o condutor que tiver concentração superior a 0,29 mg de álcool por litro de sangue ainda responderá a processo, podendo ser  condenado a até 3 anos de prisão.
Durante os três dias de fiscalização desse final de semana, a Transalvador abordou 291 condutores. Desses, 26 foram autuados pela Lei Seca. Seis condutores com até 0,29 mg de álcool, um condutor com mais de 0,30 mg de álcool e 19 condutores que se recusaram a usar o bafômetro e foram autuados. No total, 25 veículos foram removidos e 26 carteiras de habilitação foram apreendidas.
As blitze estavam suspensas na capital baiana desde julho do ano passado por problemas contratuais entre a Transalvador, Secretaria Municipal de Infraestrutura e Transporte (Setin) e Detran. Segundo informou a Transalvador, o atual contrato garante as fiscalizações por um  período de um ano, podendo ser renovado por mais quatro.

Corpo de idoso atropelado é enterrado
O rodoviário Ademário Alves de Souza, 60 anos, que morreu domingo após ser atropelado pelo veículo dirigido por Jessé dos Santos Brasil, 43, em um ponto de ônibus da avenida Bonocô, foi sepultado ontem, no Cemitério Campo Santo. Apesar de haver suspeitas de embriaguez e alta velocidade, o motorista afirmou, na 1ª Delegacia, nos Barris,  que  dormiu no volante.

Como se recusou a fazer o teste do bafômetro, só depois de concluído os laudos periciais do Departamento de Policia Técnica – em até 10 dias – será possível identificar se houve imprudência.
“Infelizmente, a lei faculta às pessoas o direito de não gerar provas contra elas mesmas. Esse caso foi irresponsabilidade. O pior é que o motorista  foi detido e liberado. Fica apto para cometer uma nova infração se quiser”, opina o diretor de trânsito e transporte da Transalvador, Renato Araújo.
No atropelamento,  outras duas pessoas ficaram feridas. Segundo a Secretaria da Saúde do Estado da Bahia, José Moreira de Araújo, 46, teve a perna  direita amputada e  está internado na Unidade de Terapia Intensiva  do Hospital Geral do Estado. A outra vítima, Alfredo Elias Ribeiro, 33, também está no HGE. Ambos estão estáveis.
Pesquisa: 79% aprovam prisões
Até ontem, 182 pessoas já haviam morrido no trânsito de Salvador este ano. Segundo estimativas da Transalvador, grande parte desse contingente de mortos seria reduzido caso houvesse maior conscientização dos motoristas para não combinar direção com consumo de bebida alcoólica.
“Se as pessoas tivessem educação para o trânsito e leis mais firmes que punissem os imprudentes seria melhor”, defende Renato Araújo.
Pesquisa do Instituto Futura em parceria com o CORREIO sobre a situação do trânsito e a fiscalização nas vias da cidade, divulgada domingo, identificou que 79% dos soteropolitanos concordam que quem for flagrado dirigindo alcoolizado deve ser preso.
Na pesquisa, 82,9% dos 601 ouvidos apontaram que  as autoridades deveriam ser mais rígidas com os condutores de veículos que  dirigem depois de beber.
“Os dados dessa pesquisa refletem o desejo da sociedade de viver em um trânsito mais adequado, com motoristas responsáveis ao volante”, defende Araújo. A pesquisa  foi feita entre 30 de agosto e 3 de setembro.
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