A Copa do Mundo 2014 já está deixando um importante legado para o país. A União, que há mais de 20 anos não investia em mobilidade urbana, por equivocadamente entender que essa era uma atribuição exclusiva dos municípios, finalmente despertou para a necessidade de destinar recursos ao setor. Mas, que fique claro, essa “consciência” somente surgiu em virtude das exigências da Fifa, preocupada com o ir e vir do seu público, durante o Mundial de Futebol. Ou seja, mesmo o Brasil sendo um país essencialmente urbano – já que 84% da sua população vive nas cidades – foi somente diante de pressões externas que o governo federal saiu do imobilismo e resolveu encarar de frente o grave problema da falta de mobilidade nos centros urbanos.
O governo federal deu o pontapé inicial na mobilidade com o chamado PAC da Copa, o Plano de Aceleração do Crescimento voltado para as 12 cidades-sedes do Mundial de Futebol da Fifa. Por pressões políticas dos estados que ficaram fora do evento, num segundo momento, a União criou o PAC Grandes Cidades (mais de 700 mil habitantes), ampliando para 24 o número de municípios atendidos. Mais recentemente, com o PAC Médias Cidades (acima de 250 mil moradores) mais 75 cidades foram contempladas com recursos federais.
Neste cenário, Salvador, a terceira capital do país, não tem ainda muito a comemorar. Até agora, só fez gol contra. Primeiro porque, apesar de ter apresentado projetos aprovados pelo governo federal e analisados pela Caixa Econômica, acabou abdicando dos R$ 532 milhões previstos no PAC Copa, que destinou às 12 cidades-sedes do Mundial 2014 recursos variando entre R$ 361 mi (Natal-RN) e R$ 1,17 bi (Rio de Janeiro-RJ).
E engana-se quem pensa que a verba desperdiçada no PAC Copa foi resgatada pela Bahia no PAC Grandes Cidades. A previsão de recursos para a região metropolitana de Salvador é a menor dentre as RMs contempladas no plano: R$ 1,6 bilhão, abaixo de Fortaleza-CE (R$2,3 bi) e Recife-PE (R$2,04 bi), para citar apenas dois exemplos. Vale salientar ainda que a capital baiana é também a única cidade que não possui qualquer projeto de mobilidade tramitando para aprovação pelo governo federal.
Uma pesquisa recentemente realizada pela Proteste (associação de defesa do consumidor que avalia produtos e serviços) Salvador foi apontada como a pior cidade do país em mobilidade, o que não é novidade. Em parte devido à sua topografia, em parte pela degradação de uma malha viária remanescente da era pré-automóvel e, principalmente, pela falta de uma política governamental para o setor, que concentrou todos os esforços apenas em um questionável projeto de obras de metrô. Como nenhuma ação concreta vem sendo desenvolvida nessa área, há indícios de que o panorama se mantenha indefinidamente. É lamentável que isso aconteça numa cidade com a importância histórica e sociocultural da capital baiana.
O desafio agora, para o prefeito que tomará posse em janeiro, é trabalhar em favor de todos os soteropolitanos, resgatando o passivo de investimentos em infraestrutura de mobilidade urbana, recuperando as grandes oportunidades que estão sendo desperdiçadas.
Carlos Alberto Batinga Chaves é engenheiro civil e consultor em mobilidade urbana. Participou como palestrante do Seminário Impactos da Lei Nacional de Mobilidade Urbana e do Seminário BRT e BRS: Planejamento, Implantação e Operação.
Fonte:
http://www.sengeba.org.br/compos.php?idioma=br&m=site.item&item=929
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