À frente de uma das mais importantes pastas da administração de Salvador, a Secretaria de Urbanismo e Transportes (Semut), Fábio Mota destaca o grande desafio de melhorar a mobilidade urbana da capital baiana.
Nesta entrevista exclusiva, o secretário diz que se considera maduro para enfrentar os gargalos e apresentar soluções que beneficiem a população da terceira maior capital do país. Segundo ele, a prefeitura dispõe hoje de uma gama de projetos voltados para o setor, que serão financiados com recursos próprios, recursos federais e através de Parcerias Público-Privadas (PPPs).
Fábio Mota chama a atenção ainda para a importância dosistema do BRT, que ficará pronto no prazo de dois anos. Ele destaca também que a nova licitação do transporte público sobre rodas terá seu resultado anunciado no próximo dia 14 de julho.
Mota aproveita o papo para relatar detalhes sobre o projeto para a nova Estação da Lapa e a implantação da Linha Viva, que ligará a BR-324 ao Aeroporto Luis Eduardo Magalhães.
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Tribuna da Bahia – À frente de uma pasta sensível e ao mesmo tempo estratégica para a cidade, como o senhor avalia esse começo de atuação no governo ACM Neto?
Fábio Mota – É um desafio importante, que carece de muita experiência e habilidade. Acho que no caminhar da vida pública eu me considero mais maduro do que outrora. Passei pela presidência da Limpurb, pela Secretaria de Serviços Públicos (Sesp), pela Secretaria Nacional do Ministério do Turismo, esse último, inclusive, me deu possibilidade de conhecer realidades diferentes no Brasil e no mundo. O que eu posso dizer é que me encontro preparado para alavancar os projetos importantes que estão na Secretaria de Transportes e que vão influenciar na vida de todos os soteropolitanos.
Tribuna – O senhor sentiu dificuldades ao assumir efetivamente a pasta?
Mota – Dificuldade não é a palavra, mas tenho estudado bastante. Não deixa de ser uma área nova, principalmente na parte de transportes, mas tenho me dedicado, estudado bastante para que eu possa dar o melhor dos meus dias, para tentar melhorar a mobilidade urbana, como também o transporte público de Salvador. Esse é o grande desafio dos próximos dois anos dessa pasta. Evidentemente que a secretaria é muito mais ampla, tem toda a parte de licença ambiental do município, que também está aqui. Nós temos autarquias importantíssimas, como a Transalvador, a Sucom, a Fundação Mário Leal – que atua na parte urbanística, mas o maior desafio é melhorar a questão da mobilidade urbana e do transporte público na cidade de Salvador.
Tribuna – O que já está sendo feito para enfrentar a imobilidade urbana que hoje impera em Salvador?
Mota – Para melhorar a mobilidade urbana na cidade é preciso, evidentemente, fazer obras. A última grande obra de mobilidade urbana foi a Avenida Paralela. De lá pra cá foram mais de 30 anos sem uma grande obra. Agora, de dois anos pra cá é que a prefeitura e o estado estão realizando grandes obras para melhorar a mobilidade urbana. Nós estamos entrando com algumas ações também pontuais, até porque o nosso projeto maior de mobilidade, que é o BRT, deve ficar pronto em no máximo dois anos. Na verdade é mais do que um transporte público, mas uma intervenção viária na cidade de Salvador. Enquanto isso, estamos fazendo ações, como a realizada na Avenida Paulo VI, e a que vamos fazer agora no Iguatemi. Serão várias intervenções, desde alargamento de pista, modernização e sincronia de toda a parte do semáforo, até a inversão de mão de algumas áreas da região no intuito de melhorar e dar mais fluidez ao trânsito. Mas, sabemos nós que grandes medidas estão sendo tomadas, como o sistema BRT, que vai ser um grande divisor de águas na cidade de Salvador. Vamos ter um sistema revolucionário, pois primeiro será ampliado o modal, você passa a ter um elemento novo no modal, assim como vamos ter o metrô, mas também pelas intervenções que serão feitas. Será feita a ligação Lapa – LIP (Iguatemi/Paralela), que vai possibilitar que o cidadão em ônibus duplo climatizado e confortavelmente por via exclusiva faça em quinze minutos o percurso da Lapa até a Estação Newton Rique (Iguatemi) e dali fazer a integração com o metrô e seguir viagem. Você vem com um percurso que passa por toda a Avenida Vasco da Gama, entrando na Juracy Magalhães, passa na ACM, sendo uma via exclusiva que não terá nenhum impacto ambiental, até porque toda aquela área já é remexida, não existe fauna, flora especificamente nativa naquela região, e vamos dar esse ganho ao transporte público.
Tribuna – Existirão ganhos no sistema viário?
Mota – Sim, muitos. Teremos também as vias que serão duplicadas, que vão favorecer o transporte particular. Para que o BRT faça essa via exclusiva vamos precisar fazer intervenções importantíssimas no ponto de vista de estrutura, ou seja, vamos ter que fazer três complexos de viadutos. Um será no início da Avenida Garibaldi, mais próximo ao Lucaia, outro na área do Parque da Cidade, Itaigara, o que vai acabar com todos aqueles retornos. Vamos ter outro complexo de viaduto maior na sinaleira do Hiperposto, ou seja, você sair da Avenida Garibaldi até a Praça Newton Rique sem pegar uma sinaleira. Todos os estudos feitos na cidade mostram que o maior problema da cidade está na área do Iguatemi. Por isso, vamos atacá-lo de frente.
Tribuna – Quando será lançada a licitação?
Mota – Desde que assumiu o mandato, o assunto que mais preocupa o prefeito ACM Neto é a mobilidade da cidade, e ele espera assinar a ordem de serviço para o BRT ainda este ano. Vamos começar primeiro pelas intervenções viárias dos viadutos e depois pela Via Expressa para a concretização do BRT, mas esse projeto é muito mais amplo do que simplesmente a ligação LIP-Paralela. Além de ser um novo modal, você vai permitir que, através desse BRT, seja alimentado por vias exclusivas também. Vamos ter uma via que sai do Comércio e que liga até a Pituba e vamos ter outra que sai da área do Iguatemi pela Orla até o Aeroporto. A cidade ganhará um novo vetor de transporte climatizado, moderno e ao nível do que temos hoje em Curitiba (PR) e Bogotá, de grandes cidades do Brasil e do mundo.
Tribuna – Quando a Orla vai contar com o sistema BRT?
Mota – O sistema da Orla é um sistema alimentador do BRT. A primeira fase é a da Estação LIP, que queremos entregar em dois anos a obra e consequentemente vêm as interligações. No máximo em dois anos vamos ter o BRT via Orla e o BRT Comércio – Pituba.
Tribuna – Quando a população vai poder contar com um transporte sobre rodas que atenda as demandas da cidade e que tenha qualidade?
Mota – Não precisa ser secretário de Transportes para saber que o nosso sistema carece de várias melhorias. Salvador vive um momento histórico. Nos últimos 40 anos, nós não tivemos um processo licitatório de ônibus, então estamos tendo essa oportunidade agora. Nós esperamos anunciar no dia 14 os vencedores do processo licitatório. Vamos ter, no processo, ônibus mais novos. Nós chegamos a ter ônibus aqui com média de 10 anos e agora essa média vai cair para três anos. Vamos ter uma frota com ventilação que hoje nós temos. Toda a frota também terá equipamentos de acessibilidade, a motorização também será euro V, que quer dizer que vai se poluir menos o meio ambiente. Todos os ônibus, a partir de 2016, terão GPS e câmeras, o monitoramento será feito de forma inteligente. Hoje o transporte de Salvador, além de contar com ônibus velhos e mal cuidados, sofre com um problema que acaba acarretando na mobilidade. Hoje a soltura dos ônibus é feita como nos primórdios, onde o cidadão tem uma cadernetinha, dizendo que o ônibus tem que sair 10h, tem que sair 11h30. Com o GPS nos ônibus você vai fazer isso de maneira mais inteligente. Você vai poder saber se na Avenida X ou Y vai poder entrar mais um ônibus. Você vai poder fazer remanejamento de um ônibus que por ventura iria para o itinerário onde ocorreu um acidente. Além disso, melhora a questão da fiscalização. Hoje não temos um quadro de fiscais ideal para fiscalizar 3.500 ônibus na cidade. Com o monitoramento, a fiscalização será feita a partir de uma central que permite fazer as anotações, as multas, ou seja, você passa a ter um sistema completamente diferente do que está acostumado a ter. Hoje o transporte público de Salvador é feito como se fosse um puxadinho, onde os bairros foram surgindo e o ônibus que ia para o bairro X passou a ir para o Y. Com o novo processo licitatório você vai poder planejar o transporte público da cidade, vai fazer o estudo que vai permitir que você leve a linha especificamente para um local mais rápido para que o cidadão saia de sua casa de forma mais rápida.
Tribuna – E a redefinição das linhas, secretário?
Mota – Agora nós vamos poder redefinir as linhas e possibilitar, evidentemente, um maior conforto para a população. Teremos ônibus mais novos, que vão quebrar menos, e a condição para o cidadão que está nele será melhor. Vamos ter com isso mais fluidez, pois se deixa de quebrar e, consequentemente, anda mais rápido. Teremos depois do resultado da licitação que sai agora em 14 de julho, 30 dias, que é um prazo legal, e apostamos em no máximo outubro para assinar os novos contratos com os novos vencedores das bacias. Dividimos a cidade em três bacias, que são a bacia da Orla, do Centro e do miolo da cidade, e esperamos já começar a implementar a nova modelagem do transporte público de Salvador. Além disso, a administração se preocupou muito com a questão dos rodoviários e dos motoristas. Se você fizer uma enquete com os rodoviários hoje, constatará que um dos maiores problemas deles é a falta de banheiros nos finais de linha para fazer suas necessidades. Já é uma classe que vive estressada em um transito complicado e que tem que ficar batendo na porta do vizinho do final de linha. No novo processo licitatório, as empresas que ganharem vão ter que construir em cada fim de linha os módulos confortos. O que é isso? Cada final de linha será dotado de uma sala climatizada com banheiro que dê conforto.
Tribuna – E a polêmica em torno da outorga onerosa?
Mota – Na questão da outorga onerosa, as empresas que vierem a ganhar o processo licitatório terão que pagar um valor para a prefeitura para administrar determinada bacia. O valor mínimo é de R$180 milhões. Esse dinheiro obrigatoriamente será investido na mobilidade urbana. Parte do recurso do BRT é do governo federal, mais parte do BNDES, Caixa Econômica Federal, porém a outra parte vem da prefeitura. Portanto é imprescindível fazermos esse link da licitação do transporte com as obras de infraestrutura que vão ser feitas na cidade.
Tribuna – O que será feito na Estação da Lapa?
Mota – A Estação da Lapa é uma das maiores do Brasil do ponto de vista de transporte público, e o prefeito ACM Neto sempre se preocupou, foram feitas várias reformas, mas se chegou à conclusão que pelo fato de a Estação ter permanecido muito tempo sem investimentos haveria uma necessidade de fazer um aporte bem maior do que a prefeitura poderia fazer com recursos próprios. Daí surgiu a ideia de fazer uma concessão da Estação da Lapa, transformando-a na mais moderna do Brasil. Esse é o nosso desafio. É uma ideia arrojada e nós estamos com o edital pronto e vamos soltar ainda este ano. Quem vier a ganhar a concessão vai fazer todas as reformas necessárias. O conceito é de novas escadas rolantes, com novo designer e arquitetura, linkada com o metrô, até porque lá tem a estação do metrô, e com o BRT que vai sair de lá. A ideia é uma estação bastante moderna e confortável para a população de Salvador, reunindo os três modais da cidade.
Tribuna – O que esperar com relação à integração do metrô, antes do processo de construção do trecho da Paralela? Vai haver alguma mudança, inclusive nessa reestruturação das linhas de ônibus?
Mota – Os ônibus continuam rodando na cidade, até porque são os alimentadores não só do metrô como do BRT. Continuam sendo imprescindíveis porque é o único tipo de transporte que temos em Salvador, mas a partir de setembro o metrô começa a rodar, sendo um novo modal. Por menor que seja a sua linha neste primeiro momento, vai melhorar principalmente para as pessoas que estão envolvidas no Bonocô e no Acesso Norte.
Tribuna – A população que utiliza o sistema sobre rodas em Salvador sofre com outro problema: a precariedade e até mesmo a falta de pontos de ônibus na cidade. Vai haver mudança na estrutura desses equipamentos?
Mota – Nós temos consciência que é uma demanda reprimida a falta de abrigos de ônibus. Temos um serviço de concessão desde 2000 que possibilita que duas empresas façam essas instalações e nós fizemos uma revisão nesses contratos. Com isso, a cidade vai ter um ganho imediato de mais R$4 milhões, ou seja, neste segundo semestre vamos instalar 100 novos abrigos de ônibus, o que vai melhorar bastante. Evidente que essa é uma primeira etapa, pois temos hoje três mil pontos, sendo 1.500 com abrigos. Nosso objetivo é que ao final da administração do prefeito ACM Neto nós possamos ter abrigos em todos, que tenham bancos e todas as condições para melhorar o conforto de quem pega transporte na cidade.
Tribuna – Faltam recursos para o excesso de demandas? O que vai fazer para solucionar esses gargalos?
Mota – Acho que a parceria público-privada é uma saída. A busca de recursos em Brasília também é outra saída. O que falta, na verdade, às administrações públicas, é projeto, o que não é o caso de Salvador, pois temos uma imensidão de projetos. A prova é o BRT que está aí saindo do papel, temos toda a Orla da cidade com parte de recursos federais. Nós aqui na Secretaria estamos elaborando projetos não só na área de mobilidade, mas também na área de urbanismo, para buscarmos recursos em Brasília e também na PPP.
Tribuna – O que pode apontar como relevante em relação à área de urbanismo?
Mota – Nessa área, a Fundação Mario Leal vem projetando todos os projetos da Orla de Salvador, já está tocando isso, com recursos alocados do Ministério do Turismo. Evidentemente estamos atrás de mais recursos para aumentar a quantidade de obras da cidade. Estamos fazendo estudos também referentes aos planos inclinados, estamos buscando elaborar propostas de intervenções em áreas especificas como Cajazeiras, e vamos tentar buscar recursos em Brasília. Enfim, nesses 60 dias estamos preocupados em tocar a administração e fazer proposituras de coisas novas.
Tribuna – O que esperar em relação à Linha Viva? Sairá do papel?
Mota – Olha, as audiências públicas já foram realizadas, é um projeto arrojado, de mais de R$1,5 bilhão, com recursos da iniciativa privada, ou seja, a prefeitura não investirá um centavo. Será um projeto muito importante para a mobilidade urbana da cidade de Salvador, são 17 km saindo do acesso Norte até a Estrada CIA-Aeroporto, possibilitando tirar todo o trânsito da Avenida Paralela, consequentemente, deixando essa avenida mais rápida para o transporte público, onde os ônibus vão andar com mais fluidez. Ou seja, o projeto da Linha Viva está linkado com o transporte público. É importantíssimo, são mais de dez conexões. Estamos neste momento discutindo sugestões feitas por organismos da sociedade civil, alguns pareceres da Procuradoria de Salvador e esperamos no mais tardar no período de 60 dias estarmos com o edital pronto da Linha Viva.
Tribuna – Ao fazer agora parte do governo ACM Neto, qual o maior acerto e a maior dificuldade da gestão?
Mota – Fazer parte desse governo é um desafio muito grande, pois não é qualquer governo. É o mais bem avaliado do Brasil, e por si só mostra que o prefeito montou uma equipe de qualidade, o que aumenta a minha responsabilidade, no que diz respeito em manter o nível da administração pública nos índices e patamares que aí estão e, evidentemente, tentar melhorar a área especifica onde estou gerindo. Tenho convicção desse desafio e estou pronto para esse desafio. Vamos enfrentar para tentarmos melhorar essa área.
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