Meta de multa: essa é a nova pressão sofrida por agentes da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) em algumas regiões da cidade de São Paulo.
Funcionários da CET, que pediram para não serem identificados, revelaram à reportagem da Rádio SulAmérica Trânsito que estão sendo cobrados para autuarem e guincharem mais veículos.
“Depois que teve troca de chefia, começou um terrorismo em cima da gente, querendo resultado em cima de autuação. Chegou num ponto que, numa reunião, nos disseram que a única forma de segurar a gente era mostrar resultado de multa”, revelou um funcionário.
As mudanças de chefias de departamentos citadas pelo entrevistado aconteceram entre maio e junho deste ano.
As “ameaças”, segundo os agentes, são sutis e veladas e nunca são registradas por e-mail ou documento, apenas verbalmente, em reuniões a portas fechadas.
“Nada formal, só passam por voz, não escrevem em lugar nenhum”, confirma outro funcionário. “E se a quantidade de multas não melhorar, o cara é transferido, trocado de turno, tudo para dificultar a vida do cara.”
Os funcionários ouvidos pela reportagem reclamam que essa postura atrapalha a concentração nas funções diárias, como monitorar o trânsito ou simplesmente dirigir os veículos e motos com segurança.
De acordo com os relatos, os agentes não são orientados a inventar multas, mas a pressão e o medo de mudança acabam influenciando na interpretação de alguma suposta irregularidade de trânsito.
“Eu trabalho há 15 anos na CET e nunca tinha sido estabelecida uma meta como essa. Não pode ser cobrada uma meta do agente, porque isso pode interferir no julgamento do agente. Agora está esse inferno. Ou você faz multa, ou está correndo risco de ser transferido ou demitido.”
Meta de 120 guinchamentos por dia
Esta “intensificação” na fiscalização e autuação também atinge a área de remoção de veículos das ruas com guinchos.
“Antigamente se trabalhava com duas empresas, cada uma empregando dez guinchos e ainda dividindo a frota com a Polícia Militar”, recorda o entrevistado. “Hoje, a CET sozinha está com 30 guinchos. E os contratos são milionários. Para justificar esse custo elevado, precisa guinchar. Então existe uma meta de 120 guinchamentos por dia.”
Para outro agente ouvido, essa medida vai contra todo o treinamento que eles receberam até hoje.
“Fazer guinchamento em, por exemplo, área azul, não segue o critério de verificar se oferece risco de segurança e fluidez que, até então, era adotado para nós.”
Os novos guinchos estão agindo não apenas na remoção de veículos parados em zona azul, mas também na de veículos quebrados em vias públicas.
Apesar de as multas estarem dentro da lei, os agentes acreditam que o foco em educação no trânsito está sendo deixado de lado. “As campanhas nesse sentido, obviamente, tinham um lado educativo e preventivo. E agora, infelizmente, tem que fazer fiscalização sem que haja um tipo de campanha, uma informação mais divulgada.”
Outras autuações que não eram observadas pelos agentes, como não parar completamente o veículo quando há placas de PARE, já começaram a ser fiscalizadas. Em um cruzamento sem semáforo, se o motorista não parar, engatar a primeira marcha para depois seguir, será também multado.
CET nega denúncia
Em resposta, a Companhia de Engenharia de Tráfego afirma não ter nenhum procedimento que determine ou indique o cumprimento de metas quanto a elaboração de autuações de trânsito ou ação diversa de sua função original.
Sobre qualquer denúncia que saia do campo legal de sua ação, a CET diz estar pronta a apurar toda e qualquer situação.
Na próxima segunda-feira, a Rádio SulAmérica Seguros Trânsito vai mostrar como a CET está usando a palavra do agente de trânsito como única prova de infrações dos mais variados artigos.
Os taxistas viraram alvo de autuações frequentes em corredores e faixas, em horários permitidos.
Fonte: Uol
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