O número de condutores flagrados usando o celular enquanto dirigem aumentou 176,5% entre janeiro e agosto deste ano na capital baiana, em comparação com o mesmo período de 2013.
Nos oito primeiros meses de 2014, 14.056 motoristas foram notificados de acordo com dados da Superintendência de Trânsito e Transporte do Salvador (Transalvador). Isso significa que 2,4 condutores cometem essa infração a cada hora. No ano passado, o órgão de trânsito registrou 5.083 ocorrências.
Atender a uma chamada, mandar um SMS, ler uma mensagem no WhatsApp ou checar o e-mail são ações frequentemente praticadas ao volante.
Apesar de se tratar de um fenômeno recente, pesquisas em todo o mundo já apontam uma série de riscos do uso do celular ao volante.
Um dos estudos, realizado pela Universidade de Utah (EUA), revela que o risco de acidente no trânsito aumenta em 400% com o uso do aparelho.
O principal fator apontado pela pesquisa é a falta de atenção e diminuição do tempo de reação. Usando o celular, o condutor dificilmente olha para o retrovisor, divide faixas, tem dificuldade para trocar marchas, não fica atento à sinalização e ultrapassa a velocidade da via.
“As pessoas sabem que se trata de uma infração. O que falta é a percepção de risco, entender que aquele ato pode causar acidentes”, ressalta o médico Roberto Douglas, presidente da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet).
Percepção foi o que faltou a um administrador de 31 anos, que pediu para não se identificar, para evitar um acidente. “Estava dirigindo na avenida Paralela e, ao mesmo tempo, olhando o WhatsAapp. De repente, senti um tombo: tinha batido no carro da frente”, conta.
Por sorte, ninguém se machucou. “Tomei esse episódio como um aprendizado, pois poderia ter sido pior. Quando o celular toca, paro em um local seguro”, relata.
Por outro lado, a percepção evitou um acidente com o representante de vendas Paulo Martins, 34, também na avenida Paralela. “Vi que a motorista que vinha atrás de mim estava olhando o celular e dei passagem. Mais à frente, ela bateu no fundo de outro carro”, relata.
Fiscalização
O superintendente da Transalvador, Fabrizzio Muller, destaca que o aumento no número de notificações está ligado à maior proatividade dos agentes do órgão e ao crescente uso de celulares.
“As pessoas acham que é algo inofensivo. A melhor forma de educação é a fiscalização, mas tudo depende da conscientização. As pessoas precisam entender que o uso de celular pode provocar acidentes”, destaca Muller. Hoje, a Transalvador conta com 800 agentes.
]A engenheira de tráfego Cristina Aragón diz que o rigor da fiscalização é uma forma de conscientizar a população sobre o perigo de se usar o telefone ao dirigir.
“Esse crescimento (do número de notificações) não significa que mais pessoas estão usando o celular, mas que a fiscalização aumentou”, acredita a especialista.
Ela ressalta que a vigilância deve ser mais intensiva para inibir os condutores. “A presença da fiscalização faz com que as pessoas evitem cometer a infração. É uma forma de prevenção”, frisa.
Para o engenheiro Paulo Guimarães, responsável pela área de Pesquisa e Desenvolvimento do Observatório Nacional de Segurança Viária, o uso do celular ao volante está relacionado ao “deficiente” processo de formação de condutores.
“Não serve para criar percepção de risco das pessoas. Deve-se mudar a linguagem de ‘não use celular’, para mostrar pesquisas que apontem os riscos”, salienta.
Fonte: Portal A Tarde
Seja o primeiro a comentar