Os condutores de moto representam a metade das internações por acidentes de trânsito no Sistema Único de Saúde (SUS) na Bahia. Consequentemente, as ocorrências com usuários de motocicletas são as que mais geram gastos com atendimentos em unidades de saúde ocasionados por ocorrências de trânsito no estado.
No ano passado, o custo foi de R$ 5,1 milhões, o que corresponde a cerca de 50% do total (R$ 10,3 milhões). No mesmo período, 5.073 usuários de motocicletas foram atendidos em unidades de saúde do estado, segundo dados da Superintendência de Vigilância e Proteção da Saúde (Suvisa), vinculada à Secretaria da Saúde da Bahia (Sesab). Isso representa 49,4% do total de internações por ocorrências no trânsito (10.326 registros).
A situação preocupa autoridades de trânsito e de saúde do estado, além de especialistas e dos próprios motociclistas. Tanto que o secretário estadual da Saúde, Fábio Vilas-Boas, afirmou em discurso na Assembleia Legislativa que os hospitais do interior “viraram hospitais ortopédicos, por causa do número crescente de acidentes com motos”.
Para o diretor do Hospital Geral do Estado (HGE), André Luciano Santana, os jovens são as principais vítimas deste tipo de acidente. “O número preocupa bastante. Primeiro, pela imprudência do pessoal que dirige moto, muitas vezes sem os devidos equipamentos de proteção. E também porque atinge uma faixa etária de uma população muito jovem, com lesões que podem deixar o paciente com sequelas para o resto da vida”, ressaltou Santana.
Apesar disso, o número de internações de motociclistas diminuiu 9% em comparação com o ano anterior (5.576 casos). Nos últimos cinco anos, no entanto, aumentou 35%.
Frota
Nos últimos 15 anos, a frota de motocicletas aumentou cerca de 800% na Bahia, saindo de 121.276 para 1.102.623 este ano, segundo dados do Departamento Nacional de Trânsito.
Para o major Genésio Luide, coordenador do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), este é um dos principais fatores responsáveis por essa situação. “Foi o tipo de veículo que teve maior aumento na frota. Ficou acessível por conta das linhas de crédito para jovens, que muitas vezes têm comportamento de risco no trânsito”, lamentou.
Além disso, pontua o major, a motocicleta se tornou uma alternativa de mobilidade das pessoas, principalmente nas grandes cidades. “Com o trânsito cada vez mais congestionado, as pessoas optam pela moto para facilitar essa mobilidade”.
O mototaxista Gilberto Rocha, de 41 anos, concorda. No entanto, para ele, os principais causadores de acidentes com motociclistas são condutores de veículos maiores. “Os motoristas são os piores, não dão passagem e são muito desatentos”, diz.
Mortes
Na Bahia, o número de mortes de condutores de motos diminuiu 13% no ano passado em relação a 2013, segundo dados da Sesab. Em 2014, foram registrados 602 óbitos contra 697 em 2013.
A mortalidade ainda é considerada alta. Além do aumento da frota e do uso da motocicleta como alternativa de mobilidade, o major Genésio Luide cita como outro problema os ciclomotores (ou as chamadas “cinquentinhas”).
Segundo ele, como não há obrigatoriedade de emplacamento, não há como precisar a quantidade de cinquentinhas no estado. “Os municípios devem fazer esse registro, mas muitos não têm leis específicas para isso”, diz.
O major ressalta que “se criou a ideia” de que condutores de ciclomotores não precisam de habilitação. “Essa informação é falsa. Para pilotar uma cinquentinha, é preciso ter a ACC (autorização para conduzir ciclomotor), que tem o mesmo processo para tirar a habilitação categoria A”.
Capital
Em Salvador, houve redução de 16% no número de mortes de motociclistas, segundo dados da Superintendência de Trânsito e Transporte do Salvador (Transalvador). Foram 31 casos em 2014 contra 37 no ano anterior. Este é o segundo grupo que mais morre na capital.
Conforme o titular do órgão, Fabrizzio Muller, o foco da fiscalização tem sido inibir a falta de equipamento de segurança. “Verificamos que muitos acidentes com motocicletas são causados por condução sem a devida habilitação, o que buscamos inibir, com blitzes rotineiras. Tudo se reflete em uma redução gradual do índice de mortes entre motociclistas”.
Não há curso de formação, diz especialista
Para a engenheira de tráfego Cristina Aragón, outro fator que leva aos elevados números de acidentes com condutores de motos é a falta de formação específica para este grupo.
“O que você tem é um curso de pilotagem, mas não tem uma formação específica para motociclista, e isso é muito grave. Pilotar uma moto é muito diferente de conduzir um veículo. Por isso, o curso teórico deveria ser diferente”, opina.
O major Genésio Luide concorda que a formação para motociclistas é deficiente. Segundo ele, a Associação Nacional dos Detrans apresentou uma proposta para que o curso teórico para usuário de moto seja separado dos condutores. “Essa proposta foi feita há muito tempo. A ideia é ter instrutores específicos”, disse.
Cristina critica que não há uma política pública para resolver o problema da mortalidade de motociclistas. “É mais um problema de saúde pública do que de trânsito. O crescimento da frota de motocicletas é desproporcional e a educação é sempre deixada de lado”, afirma.
Para ela, com um transporte público de qualidade, os números seriam menores. “A moto virou uma fuga do transporte público, que é maior nas cidades do interior”, complementa.
Acrescenta que os acidentes com motocicletas são mais graves. “Em colisão entre veículos, há um dano material, a menos que seja algo mais grave. No caso da motocicleta, o dano é sempre à pessoa e, geralmente, é mais grave”, alerta.
Com Informações do Portal A Tarde
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