JORNAL DA METRÓPOLE: Faturando legal

Pouca gente sabe, mas, enquanto um serviço de guincho comum em Salvador custa em média R$ 150, a Transalvador cobra R$ 309. Pra piorar, grande parte dos reboques é feita pela empresa Rodando Legal, que deve receber da Prefeitura, em cinco anos, R$ 50 milhões para gerir dois pátios na cidade, ganhando 85% do valor do todos os seus serviços e deixando só 15% com o Município.

Rodando Legal ganha por produtividade ao guinchar e recolher carros em Salvador
No dia 4 de março de 2015, a Superintendência de Trânsito e Transporte de Salvador (Transalvador) anunciou a empresa carioca Rodando Legal como vencedora da licitação que determinou uma nova operadora para os serviços de gestão de pátio e guinchos na cidade.
Desde então, cabe à empresa remover e guardar veículos de infratores, assim como organizar leilões de carros apreendidos — o que, segundo Fabrizzio Muller, superintendente da Transalvador, é “uma tendência no Brasil”. Com prazo de 60 meses, o contrato tem o valor de R$ 50.457.098,37.
85% do valor direto para a empresa
Funciona basicamente assim: se o seu carro foi guinchado, passou dois dias no pátio e resultou e gerou um encargo de R$ 408,23 – R$ 309,27 do guincho e R$ 49,48 por dia de estada – 85% deste valor, ou seja, cerca de R$ 347 vão diretamente para a Rodando Legal, caso o veículo seja levado para um dos dois pátios da empresa em Salvador.
Segundo a Transalvador, se o veículo for para os Barris – único espaço operado pela Prefeitura – 100% do valor arrecadado é destinado ao município. Mas por que a Rodando Legal levaria o veículo guinchado para o pátio em que ela não recebe nada?
Critério é proximidade, mas…
A Transalvador administra o pátio dos Barris e a Rodando Legal, dois outros — em Mussurunga e na Av. Vasco da Gama. Segundo Muller, o pátio a que o veículo será levado é escolhido por proximidade da infração: “No aeroporto, normalmente vai para Mussurunga; se for perto do Centro, para os Barris”.
Mas Fabrízzio afirma que a Transalvador possui o “menor pátio” dos três. Portanto, não é improvável que a Rodando Legal se aproveite disso: “Muitas vezes tem limitação de espaço. Pode ser que um carro removido no Centro, em determinado dia, o pátio estava cheio e optamos em mandá-lo para a Vasco da Gama”.

Esquema de punição pronto. A orientação não
O professor Alexandre Oliva ficou surpreendido ao deparar com uma fila de guinchos na região da Arena Fonte Nova no dia 17 de setembro, quando o Bahia jogava contra o Goiás. “Tava cheio de guincho. Mas não tinha nenhum agente indicando onde poderia ou não estacionar, onde a gente poderia achar vaga. Nada”, disse. De acordo com os dados da Transalvador, somente até o dia 16 de setembro, 17.220 veículos foram “removidos, apreendidos ou retidos” das ruas da capital.
Rodando legal silencia
Segundo Fabrizzio Muller, os valores cobrados pelo serviço de guincho e de guarda dos veículos apreendidos não foram alterados para atender a interesses da Rodando Legal. “São reajustados anualmente pelo IPCA, mas são valores oficiais, não foram criados para a empresa. Já eram praticados pelo próprio órgão, e a licitação foi em cima dos números oficiais”, explicou. Procurada pela Metrópole inúmeras vezes, os representantes da empresa Rodando Legal não atenderam as ligações e nem responderam o contato via email feito pela reportagem.
Fonte: Metro 1

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