Internações por acidentes na Bahia custaram mais de R$ 5 milhões

Os planos
de fazer um concurso para a prefeitura de Jacobina, a 330 km de Salvador,
ficaram no caminho. Era começo da manhã de um domingo de junho quando a
enfermeira Jussara Maria do Nascimento, 26 anos, seguia de Cafarnaum, a 439 km
da capital, na companhia de outros três colegas para fazer a prova, quando um
acidente mudou o seu destino.
“O
condutor do carro cochilou e houve um capotamento. De todos os ocupantes, eu
que tive maior complicação. Tive fratura nas vértebras e estou sem o movimento
das pernas”, disse a jovem, que está internada há três meses no Hospital Geral
do Estado (HGE).
O
acidente no percurso da vida da enfermeira levou Jussara a integrar as
estatísticas do Ministério da Saúde, no recorte sobre acidentes de transportes.
De janeiro a julho deste ano, o Fundo Nacional de Saúde (FNS) já repassou R$
5,6 milhões para o custeio de internações pelo Sistema Único de Saúde (SUS) –
16,7% a mais que no mesmo período do ano passado, quando foram repassados R$
4,8 milhões para o mesmo procedimento. Os dados são do Observatório das
Violências e Acidentes do Estado da Bahia.
No total,
foram 5.031 autorizações de internamento hospitalar contra 4.279 em relação ao
mesmo período do ano passado – um crescimento de 17,5%. Os acidentes envolvendo
motociclistas lideram o número de internações (2.725) em 2012.
De acordo
com os dados do Observatório, a média de permanência dos pacientes internados é
de 4,7 dias, com um valor médio integral de R$ 1.109,12. Os dados são
preliminares e foram extraídos do Sistema de Internação Hospitalar (SIH), no
site do DataSUS.
Só no
primeiro semestre deste ano, informou a Polícia Rodoviária Federal (PRF),
ocorreram 5.260 acidentes com 3.287 feridos e 402 mortos em todo o estado.
Desse total, 12% dos óbitos estão relacionados a excesso de velocidade. As
estatísticas demonstram que pessoas com idades entre 20 e 39 anos são as que
mais sofreram acidentes causados por velocidade incompatível.
Investimento
– Para o presidente da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet),
seção Bahia, o médico de trânsito Armênio Souza Santos, o custo com internações
é “plenamente evitável”. “Quando se fala em Saúde, o único pensamento é a
construção de hospital. Porém, esses recursos poderiam ser aplicados num
processo educativo do infantil à universidade”, opinou.
Ele
aposta na criação de um ministério como forma de resolver questões relacionadas
ao trânsito e ao transporte. “Não existe guerra que mate mais que o trânsito.
Enquanto não houver medidas políticas para tratar dessas demandas, nada será
resolvido”, criticou.
Fisioterapia
– No dia do acidente, Jussara ainda foi socorrida pelo Samu ao Hospital Antônio
Teixeira, em Jacobina, mas precisou ser transferida para Salvador. “Quando
acordei, já estava no HGE, mas não tinha noção do que tinha acontecido. Achei
que era só esperar a recuperação”, lembrou a enfermeira.
Entretanto,
a notícia de que havia ficado paraplégica não tirou dela a vontade de realizar
seus planos. “Tem dia que fico mais triste, mas sempre fui positiva e acredito
que posso voltar a andar com a fisioterapia. Vou lutar, mas se não conseguir, a
saída é aprender a lidar. Pelo menos sobrevivi”, refletiu a jovem.
Susto
Era por volta de 15h do dia 19 de junho quando o consultor de informática
Marcos Luís Bastos, de 29 anos, retornava para casa pela Avenida Bonocô. Havia
acabado de chover e a pista estava molhada. 
Sem entender, contou ele, perdeu a direção do Gol cinza e bateu em uma
das muretas do metrô, no canteiro central.
“Tinha
lâmina d’água na pista, aquaplanei e perdi a direção. Pra não bater num
caminhão que vinha ao lado, joguei pro canteiro central e bati na mureta.
Estava a caminho do IAPI, onde moro”, relembrou o consultor.
Três
meses após o acidente, o consultor continua com sessões de fisioterapia, faz
uso de muletas e está afastado do trabalho. Ele ficou internado no HGE por dez
dias.
“Fraturei
a perna esquerda e fui socorrido pelo Samu para aquela unidade hospitalar, onde
fiz uma primeira cirurgia. Depois, fiquei mais dois dias no Manoel Vitorino
para um novo procedimento”, recordou.
Marcos
tenta apagar as lembranças do primeiro acidente que viveu no trânsito. “Não
gosto nem de falar sobre isso. Foi um grande susto e até hoje não consegui
entender como aconteceu. Na hora da batida, passam mil coisas na cabeça. Graças
a Deus estou vivo, já o carro foi perda total”, comentou o consultor.
Na
capital, de acordo com a Superintendência de Trânsito de Salvador
(Transalvador), o número de acidentes diminuiu entre janeiro e agosto deste
ano, na comparação com o mesmo período do ano passado.
Em oito
meses, foram registrados 4.570 acidentes contra 5.393. O número de feridos
também reduziu – 5.244 contra 4.406. No entanto, o número de mortes aumentou em
11%. O CORREIO tentou contato com o superintendente da Transalvador, Renato Araújo,
mas ele não foi localizado para comentar os dados.

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