Governador promete anunciar hoje decisão sobre projeto de mobilidade urbana

A gente errou, e eu admito o erro. Devíamos ter começado a PMI antes”. O mea culpa sobre a demora na escolha do sistema de transporte que vai fazer a ligação Aeroporto-Rótula do Abacaxi é do governador Jaques Wagner e foi feito, de forma constrangida, durante coletiva à imprensa nesta sexta-feira (05), antes do lançamento do programa Vida Melhor, que contou com a presença da presidente Dilma Rousseff.


A decisão final sobre o modelo de transporte de massa a ser adotado em Salvador iria ser tomada, ontem, em uma reunião, no Palácio de Ondina, entre o ministro das Cidades, Mário Negromonte, o governador Wagner, o prefeito João Henrique Carneiro e o chefe da Casa Civil, João Leão. Otimista, Wagner chegou a declarar que espera publicar a resolução no Diário Oficial do Estado (DOE) de hoje. A menos que o governo pretenda lançar uma edição extra do DOE, estamos diante de mais um adiamento: o veículo não circula às segundas-feiras.
A decisão sobre o modal deveria ter sido oficializada no dia 21 de junho, após a análise do Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI), mas tem se arrastado por conta do impasse entre o governo estadual e a Prefeitura quanto ao modelo que deve ser escolhido. Trilhos e rodas estão em questão. A Prefeitura defende o Bus Rapid Transit (BRT), que tem menor custo e pode ter suas obras concluídas em menos tempo. Já o governo estadual defende um modelo de trilhos, que pode ser monotrilho ou bitrilho (metrô), que atendem maior demanda, mas consomem mais tempo e dinheiro, entre R$ 2,6 bilhões e R$ 3 bilhões, para serem concluídos.
A discussão esquentou, no fim da semana passada, quando Dilma descartou mudança nos projetos originais de mobilidade das cidades-sede da Copa, o que implicaria no descumprimento da Matriz de Responsabilidades assinada pelos 12 municípios. O documento viabiliza a execução das ações necessárias à realização do megaevento esportivo e, em Salvador, está associado à liberação de R$ 567, 7 milhões para a implantação do BRT – trecho Aeroporto-Rótula do Abacaxi, via Paralela. Como embolou o baba, lançando em março um Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI) e até o momento não apresentou o projeto alternativo, o Estado tem sido pressionado pelo governo federal para oficializar logo a decisão. Os prazos estão se esgotando e, até 31 de dezembro, projeto executivo e licitação têm que estar concluídos para que, nos primeiros dias de 2012, as obras estejam em curso na cidade.
Semana intensa
Ao longo de toda esta semana, o assunto mobilidade urbana de Salvador esteve em pauta. O tema foi debatido pela classe política e por empresários noAgenda Bahia, na quinta-feira (04), evento promovido pela Rede Bahia e pela Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb). E por técnicos, na sexta-feira (05), no Workshop Internacional sobre Mobilidade Urbana e Cidadania, realizado pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-BA).
No Agenda Bahia, o governador Wagner e Zezéu, secretário do Planejamento, aproveitaram a oportunidade para defender os trilhos na Paralela. Enquanto isso, no workshop sobre mobilidade urbana os técnicos chegaram à conclusão de que é viável acabar com os transtornos do trânsito de Salvador e oferecer um transporte público de qualidade e sustentável. Ressaltaram, no entanto, que, para isso, é preciso coesão política e colocar as necessidades da população como prioridade. “É uma solução tecnicamente viável, mas precisa ser feito com qualidade. Na área de transporte não adianta fazer ‘gambiarras’, e aqui em Salvador vocês tem uma enorme, que é o metrô de 12 anos, uma verdadeira vergonha. O modal a ser escolhido é o de menos, o importante é pensar na população que vai utilizar o serviço!”, disse a representante da Associação Nacional de Transporte Público, Valeska Perez.

Mobilizações

E não são apenas os políticos e técnicos de trânsito que têm opinião formada a respeito da mobilidade urbana. A população de Salvador tem se mostrado bastante insatisfeita com os problemas gerados pelo trânsito caótico e a falta de estrutura do transporte de massa. Este ano, os usuários de transporte público realizaram diversos protestos localizados contra a situação do transporte público e da falta de iniciativas para resolver a questão. Em junho, duas manifestações pararam a Estação Pirajá. Em maio, movimento semelhante já havia acontecido na Estação da Lapa. A conclusão e ampliação da Linha 1 do metrô, em obras há exatos 12 anos, está na linha de frente das reivindicações.

E a vontade de opinar sobre os destinos da cidade é tanta que nesta sexta-feira (06) um grupo de representantes de entidades de bairros populares de Salvador foi até Brasília para participar de uma audiência com técnicos da equipe do Ministério das Cidades. O grupo acusa os gestores de excluírem dos projetos de mobilidade bairros populares, como os que ficam na região de Cajazeiras e do Subúrbio Ferroviário. Dentre as reivindicações, a conclusão dometrô conforme projeto original (Lapa-Cajazeiras). Afinal, como costumam lembrar os representantes do grupo, os cobiçados R$ 2,4 bilhões do PAC da Mobilidade têm que ser usados na cidade toda e não apenas na Paralela.




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