Com fim da greve de ônibus, ação de motoristas clandestinos ganha força nas ruas

Eles se dizem alternativos, a lei os chama de clandestinos. Mas, seja lá
como for, eles  são proibidos. A
coexistência dos transportes irregulares com os ônibus e táxis em Salvador
ficou explícita durante a greve dos rodoviários. Nos dias de paralisação, que
terminaram na sexta-feira, as vans, kombis, mototáxis e carros de passeio deixaram
de ser fiscalizados e atuaram livremente. Com o fim da greve, os órgãos de
fiscalização declararam que voltariam a notificá-los. Nesta segunda (28),
porém, o CORREIO circulou pela cidade e verificou que eles continuam em ação.
Eram facilmente encontrados nos pontos de sempre, com maior incidência em
dois locais: na rodoviária e na região da Brasilgás, na BR-324. De fiscalização
mesmo apenas um carro da Transalvador, em Pirajá. E nenhum da Agerba (agência
estadual que regula os transportes). Apesar de irregulares, se dizem
injustiçados após a paralisação. “Na greve foi a gente que ajudou a população.
A própria Agerba liberou e recomendou. Agora nos perseguem de novo”, opina um
motorista que faz transporte de ‘ligeirinho’, os carros de passeio que levam
pessoas de Salvador para  cidades
próximas.

Na rodoviária, outro grupo de ‘ligeirinhos’ fazia ponto. “Os carros são
novos, organizados, saem na ordem”, defende um dos motoristas. Segundo ele, a
fiscalização da Transalvador e da Agerba voltou ao normal após a greve, mas até
o meio da manhã de ontem não tinha notificado nenhum deles. Em outro ponto
comum de clandestinos, a avenida Suburbana, vans e kombis circulavam
livremente. Ali, como no resto da cidade, a convivência com os ônibus não chega
a ser pacífica. O motorista Evaldo Alves, da empresa Praia Grande, reclama das
trapalhadas no trânsito. “Param três kombis de uma vez no ponto e impedem da
gente passar. Pego passageiros no meio da rua”. 
A questão é polêmica: alguns motoristas de transportes irregulares alegam
que gostariam da regularização. Enquanto isso, continuam na clandestinidade.
“Eu não me considero clandestino. Clandestino, pra mim, é aquilo que ninguém
conhece. Toda a sociedade conhece o ligeirinho”, defende um motorista. “Tenho
que complementar minha renda familiar”, justifica. Outro colega diz que já
trabalha com o transporte há 18 anos. “Quando a polícia me para, eu não minto.
Eu digo: é transporte. E aí eles dão a multa, que é muito alta, mas tem que
pagar”, afirma.
Passageiros se dividem. A estudante de Direito Ana Barbosa, 22, deixou de
ir para o estágio durante a greve. “Eu não acho os clandestinos confiáveis.
Prefiro procurar carona”. Já o dono de oficina Israel Borges, 53, diz que usou
os clandestinos, embora prefira o tradicional. “Peguei porque não teve jeito.
Entrei em Kombi, van. Mas prefiro ônibus porque é mais seguro. Num acidente,
tenho meus direitos”, diz ele, que ia do Garcia para Tancredo Neves.
Regularização – A esperança dos ilegais é a regularização.
Alguns acham difícil. “Porque as empresas de ônibus, que têm concessão para
viajar, perderiam”, diz um deles. Muitos motoristas que trabalham na Brasilgás
defendem que precisam atuar em períodos de maior movimento, como no São João.
“No São João fica difícil pegar ônibus e muita gente nos procura. Se não fosse
por nós, seria impossível levar todo mundo pro interior”, afirma.
Outra categoria de clandestinos que continua em atividade, sem qualquer
fiscalização, é a dos mototáxis. Um dos pontos movimentados fica na Suburbana,
onde agem livremente. “Estamos tentando a regularização. Em Camaçari já é
liberado”, ressalta o mototaxista Daniel Conceição, 34, que atua há dois. As
linhas de vans cobram, em geral, o mesmo preço que os ônibus: R$ 2,50. Linhas
mais curtas chegam a cobrar R$ 2. Já o preço do mototáxi varia de acordo com a
distância: Na categoria dos ‘ligerinhos’, o preço varia entre cidade. De
Salvador para Feira de Santana são R$ 17.
Agerba garante
retorno das blitze
– A Agerba
já retomou as fiscalizações de transportes irregulares, segundo o diretor
executivo Eduardo Pessoa. “São quatro blitze compostas por seis fiscais”, diz.
Na semana passada, entretanto, Pessoa afirmou que não fiscalizaria a atuação
dos clandestinos durante a greve.
Nesta segunda (28), ele reiterou tudo, apesar de o Ministério Público
Estadual (MP) apontar que a falta de fiscalização pode constituir crime de
improbidade administrativa. “Mantenho a posição de que seria um contrassenso
fiscalizar. Assumo meu risco. É questão de bom senso. Hoje (ontem), os fiscais
estão nas ruas”. O promotor de Justiça Roberto Gomes, coordenador do Centro de
Apoio Operacional às Promotorias de Justiça do Consumidor (Ceacon) enviou
ofício à Agerba e à Transalvador pedindo que os órgãos informem a fundamentação
legal para interromper as ações.
“A situação do transporte coletivo atravessava um momento crítico, mas
isso não justifica qualquer tolerância”, disse o superintendente da
Transalvador, Alberto Gordilho. Mas, durante quatro dias de greve, apenas uma
Kombi foi apreendida por fiscais do órgão na sexta-feira. São 300 agentes
trabalhando diariamente na fiscalização. A multa para quem for flagrado fazendo
transporte irregular é de R$ 1,5 mil. Nos dias de greve, no entanto, ninguém
foi multado.
Fonte:
http://www.correio24horas.com.br/noticias/detalhes/detalhes-3/artigo/com-fim-da-greve-de-onibus-acao-de-motoristas-clandestinos-ganha-forca-nas-ruas/

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