Circular com bicicletas em Salvador: um desafio possível

Até 2014, a capital baiana deverá ter 227 Km de ciclovias. Saiba como
iniciar a atividade

As ladeiras, o calor, a violência nas ruas e no próprio trânsito, o
péssimo estado de conservação de algumas vias públicas, a falta de respeito, as
longas distâncias e a pouca extensão da ciclovia são fatores reais que, para
muita gente, tornam quase impossível a utilização da bicicleta como forma de
locomoção em Salvador.

Algumas pessoas, entretanto, que vem circulando com esse
meio de transporte, têm mostrado que a bicicleta não é somente um objeto de
cobiça de algum futuro longínquo, mas uma prática viável no cotidiano atual.

Cansados dos grandes congestionamentos, dos preços abusivos da tarifa do
ônibus ou da gasolina ou apenas com disposição e gosto pelo ciclismo, essas
pessoas têm fundado grupos, criado redes, trocado ideias, reunindo dicas e
informações importantes e tirando efetivamente a bicicleta de dentro de casa
para as ruas. 

Das atividades mais corriqueiras como ir à padaria ou ao trabalho
até sair para bares numa sexta-feira à noite, tudo é feito sob as duas rodas,
quase sempre sem ajuda de motor. 
Pensando nessa nova realidade, já visível nas ruas, o iBahia buscou
algumas das principais informações para quem deseja testar a bicicleta pelas
ruas da capital baiana.

O começo – Costuma-se dizer que as principais transformações numa sociedade
acontecem com a própria mudança de comportamento dos indivíduos. Um novo começo
e a novidade, quando não soam ameaçadoras, sempre criam algum tipo de receio ou
mesmo curiosidade. Deixar de lado o carro na garagem ou o ônibus e subir numa
bicicleta para dirigir-se a qualquer ponto de uma metrópole brasileira
naturalmente é um processo que suscita alguns medos. Mas, entre os ciclistas,
há quase um consenso sobre como criar coragem para ser introduzido nesse
circuito.

A designer Renata Soutomaior, 26 anos, conta que antes de começar com a
própria bicicleta, o mais interessante é fazer alguns testes: “Começar com
bikes emprestadas, testando os modelos, usando os acessórios adequados e
fazendo distâncias mais curtas é a melhor maneira de iniciar o uso desse
equipamento na cidade”. Além de escolher dias e horários mais tranquilos,
evitando os horários em que o trânsito está intenso nas principais vias, o
iniciante pode e deve buscar pessoas com mais experiências para as primeira
pedalas. Essa é a melhor maneira de ganhar confiança para os próximos passos.

A bicicleta no dia a dia – O estudante de agroecologia, Diego Scipione,
22 anos, passava diariamente mais de uma hora dentro do ônibus da Pituba até à
faculdade, em São Lázaro. Depois de passar a viagem toda em pé – o coletivo
estava quase sempre lotado-, o estudante ainda tinha que caminhar mais dez
minutos até a universidade. No dia em que começou a usar a bicicleta, o tempo
de Diego ficou otimizado: o máximo que gastava no trânsito passou a ser trinta
minutos.
“Eu estava perdendo muito tempo com uma coisa simples. Com a
bicicleta, eu adquiri mais liberdade e controlava melhor o que eu queria fazer
e por onde queria ir, buscando atalhos e tudo mais”, conta Diego. 

Para
ele, que fazia um percurso com tráfego intenso, um dos segredos para realizar
com mais tranquilidade as atividades diárias era buscar vias alternativas às
pistas e avenidas principais. “Infelizmente, quem usa a bike em horários
mais complicados, sabe que os carros e os ônibus disputam, ao invés de
compartilhar, o espaço. 

Daí buscar atalhos e outros caminhos é uma saída boa.
Além, é claro, de ter muito cuidado com as ruas esburacadas, ter respeito,
colocar uma luz na bike, usar o capacete, enfim”.

Riscos de assaltos – Outra justificativa para não utilizar a
bicicleta é a violência própria dos centro urbanos. 
Para muita gente, não andar
de ônibus ou de carro necessariamente deixa a situação mais vulnerável e
passível de sofrer algum tipo de abordagem. O professor de Arquitetura da
Universidade Federal da Bahia, Marcos Rodrigues, que desenvolve estudos na área
de mobilidade, afirma, entretanto, que o risco é praticamente o mesmo: “A
gente percebe que, em Salvador, a quantidade de assaltos a carros e a ônibus é algo
bastante expressivo. Então, a noção de que a pessoa vai estar mais segura nesse
veículos do que numa bicicleta pode ser ilusória”.

Diego lembra que é possível usar outras medidas preventivas: “Na
hora de escolher, por exemplo, não comprar uma bicicleta com cores muito
chamativas, evitar também circular sozinho pelas ciclovias e não pedalar por
lugares desconhecidos”.

O calor e as ladeiras – Uma reclamação comum é que as temperatura
elevadas na capital baiana seriam um obstáculo considerável ao uso das bicicletas.
Embora não se possa regular com o controle remoto de um ar-condicionado o frio
ou calor que faz na cidade, algumas medidas podem ajudar a aliviar esse
incômodo. O uso de roupas leves, como saias e vestidos para as mulheres ou
camisetas para os homens, juntamente com protetor solar, boné/capacete, óculos
escuros reduzem  consideravelmente o
impacto do circuito. Outra dica é levar, na mochila ou bolsa, uma toalha e/ou
outra peça de roupa para trocar assim que chegar ao destino final.

No caso das ladeiras, os motociclistas que não possuem motor no
equipamento terão que fazer um pouco mais de esforço físico ou repetir o velho
costume de descer e empurrar. Além disso, aprender a utilizar bem as marchas
disponíveis também ajuda.

Grupos – Com o aumento dessa modalidade de transporte, diversos grupos foram
surgindo no país. Em Salvador, um dos mais conhecido é Bicicletada
Salvador/Massa Crítica. Com encontro mensais, a rede pretende, através das
pedaladas, chamar a atenção para o uso de transportes alternativos e, ao mesmo
tempo, conscientizar os motoristas e transeuntes sobre o uso das bicicletas. O
próximo ato está marcado para o próximo dia 22, quinta-feira, a partir das 19h,
no Dique do Tororó.
Outro grupos conhecidos são os Amigos de Bike e o Meninas ao Vento, mais
voltado para o intercâmbio de sugestões e dicas entre as mulheres.

Perspectivas para 2014 – A situação dos ciclistas pode melhorar
muito num futuro próximo. Até o Mundial de 2014, Salvador poderá ser a cidade
do país com mais quilômetros de ciclovia. A ideia é ampliar os atuais 20km,
essencialmente concentrados na orla e em parques, para 227km. A principal
proposta é capilarizar o percurso, levando-o para o centro e fazendo com que o
soteropolitano possa incorporar esse hábito à prática cotidiana.

*Se você vive em Salvador e tem dificuldades em se locomover pela
cidade, escreva-nos contando: [email protected]

Fonte:
http://www.ibahia.com/detalhe/noticia/circular-com-bicicletas-em-salvador-um-desafio-possivel/

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