Projeto para desafogar trânsito na Paralela inclui via com 20 pedágios

O problema é um velho
conhecido dos moradores de Salvador. Os engarrafamentos diários da Avenida Luís
Viana Filho, a Paralela. Para tentar “desafogar o trânsito na região”, a
prefeitura apresentou nesta quarta (26) um projeto: uma via de 17,7 quilômetros
que começa no Acesso Norte e vai até a região do CIA/Aeroporto e custará cerca
de R$ 1,5 bilhão.
Batizada de via
expressa Linha Viva, a ideia é construir a avenida ao norte da Paralela, numa
faixa onde estão as torres e linhas de transmissão de energia da Chesf. Ainda
segundo o projeto, ela terá ao todo dez entradas e saídas e 20 praças de
pedágio.
O projeto foi elaborado
pela empresa de consultoria de São Paulo TTC Engenharia de Tráfego e de
Transportes Ltda,  a pedido da
prefeitura, a um custo de R$ 8,37 milhões. Ele prevê ligações com as avenidas
Luís Eduardo Magalhães, Gal Costa, o Centro Administrativo (CAB) e os bairros
do Imbuí, Trobogy, São Cristóvão, Mussurunga e a rua 29 de março, que ainda
será construída.
Estão previstos ainda
dois túneis,  13 viadutos longitudinais,
17 viadutos transversais, 10 viadutos nas interconexões, uma ponte, e 61 muros
de contenção. A previsão é que, as obras, depois de iniciadas, durem dois anos.

Audiência
– O projeto foi apresentado à população numa audiência pública realizada ontem
na Biblioteca Pública da Bahia, nos Barris, “para obter opiniões da população”.
Apesar de o estudo preliminar ter sido iniciado em 2010, o projeto só foi
finalizado um dia antes da apresentação.
A estimativa, segundo o
engenheiro Francisco Moreno Neto, responsável pelo projeto, é que 40% do
trânsito na Paralela seja transferido para a Linha Viva, que terá capacidade de
75% do tráfego atual da Paralela. São três faixas de tráfego em cada sentido.
“O motorista levará cerca de 15 minutos para percorrer a via”, destacou Moreno.
A capacidade, segundo a prefeitura, será de 2.200 veículos por hora.
“O vetor de crescimento
da cidade será no entorno da Paralela, em direção aos municípios de Lauro de
Freitas e Camaçari. Já se previa quase
300 mil pessoas novas
na região. Mobilidade urbana não é só transporte público. Tem que ter
incremento viário. É uma opção de trajeto alternativo para o trânsito na
região. Vai quem achar que é melhor”, acrescentou Moreno.
Segundo a prefeitura,
após as audiências públicas, será definido o modelo de concessão e feita a
licitação da obra. Não há previsão de quantas audiências serão realizadas.
Questionado sobre a
apresentação do projeto faltando três meses para a troca de prefeito, o
secretário municipal de Desenvolvimento Urbano, Habitação e Meio Ambiente
(Sedham), Paulo Damasceno, afirmou que pretende que as audiências sejam
realizadas até o fim do ano, mas passou a bola: “É evidente que o próximo
prefeito é quem vai definir as regras gerais”, disse.
Não foram especificados
os locais onde pode haver  desocupações.
O titular da Sedham afirmou, porém, que as ocupações encontradas no projeto são
“irregulares”. “Elas terão que ser desapropriadas, mas serão indenizadas”,
disse.
Segundo a prefeitura, o
projeto tem “baixo impacto ambiental e provocará a mínima interferência no
cotidiano da cidade”. Ontem, foi entregue o Estudo de Impacto Ambiental para à
promotora Cristina Seixas, do Ministério Público. Ela disse que analisará o
estudo em “pelo menos dois meses”.
Críticas
– Após a apresentação, além da proximidade do fim do mandato e das
desapropriações, o público criticou a cobrança de pedágios.
Apesar de apresentar o
projeto com pedágios, o secretário municipal de Transportes Urbanos e
Infraestrutura (Setin), José Luíz Costa, afirmou que o modelo não está fechado.
“Poderemos ter uma modelagem estadual-federal, ou com a iniciativa privada. Eu
nem sei se vai ser pedagiada, de que forma e o valor. O uso não é obrigatório.
O projeto está aberto e todos podem colaborar”, disse Costa. “Terei que ter
recurso federal. Só vamos conseguir construir algo em Salvador com ajuda dos
governos seja federal ou estadual”, completou.
Especialista
criticam construção de mais uma via
– Apesar da prefeitura
anunciar a  Linha Viva como alternativa
para o trânsito, especialistas discordam. “Não entendo por que estão investindo
em mais uma via, enquanto o metrô está aí parado. Não vai resolver o problema
da Paralela. Isso foge completamente das soluções modernas para o trânsito no
mundo”, afirma o professor da Escola Politécnica da Ufba, Elmo Felzemburg.
Para ele, a Linha Viva
demonstra falta de planejamento urbano. “Isso apareceu de ultima hora. Cada um
vai colocando seus pedaços e acham que vão resolver o problema. É preciso
investir em uma rede integrada de transporte de massa”. Para a arquiteta e
analista de transporte e tráfego Cristina Aragón, a Linha Viva pode até piorar
a situação.
“A demanda de veículos
só aumenta, tanto pela facilidade de se comprar um carro como por não se ter
uma alternativa de transporte coletivo confiável”, diz. A especialista aponta a
melhoria das vias marginais como solução. “Onde tem congestionamento? Na saída
da Edgard Santos, da Luís Eduardo, na entrada do Imbuí”, cita Aragón.
Por fim, ela ainda
frisa a necessidade de investimento em transporte de massa. “A tendência
mundial é restringir o espaço para veículos. Apresentar uma proposta dessa como
alternativa ou é falta de conhecimento ou uma forma de enganar a população”,
completa.
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