FM – Teremos um período intermediário que é a Copa das Confederações, desde a segurança à questão de autorização de marcas, de publicidade, escoltas de autoridades, enfim, tudo envolve a Transalvador, desde o aeroporto até a Fonte Nova. Vamos demandar agora um esforço muito grande do nosso pessoal. Não são só três dias de jogos que a gente vai trabalhar. Já temos o pessoal de planejamento trabalhando há dois anos e começamos a trabalhar na rua no início de junho, até antes, com a colocação de placas e sinalização específica para Copa. Na operação de trânsito, propriamente dita, a gente começa a trabalhar em junho. Terão vias interditas durante 30 dias. Uma das vias do Dique do Tororó ficará interditada por um longo período. Outra intervenção que a gente está em fase de estudo é uma mexida no tráfego da Paulo VI, transformando-a em sentido único com uma via só de ônibus retornando e fazendo um binário com a [Avenida] Magalhães Neto. Intervenções no trânsito não são tão simples. O grande problema do trânsito é resolver um problema em um determinado local e transferi-lo para outro. Na verdade, você resolveu aqui, mas tem que escoar o outro local.
FM – Aqui não tem um centro de monitoramente. São Paulo tem toda essa estrutura e mesmo assim as pessoas sofrem diariamente com o trânsito. Eu sou de São Paulo, então eu conheço muito aquilo ali e sei que diariamente você tem problemas com a cidade. O trânsito é um problema, e as pessoas acham que pequenas intervenções, sem muitos estudos, resolverão, mas a gente tem que ter muito cuidado. Temos intervenções que já fizemos e foram consideradas como um sucesso por nosso pessoal técnico. Fizemos uma intervenção na Feira de São Joaquim, que não foi apenas retirar o veículo estacionado. Realocamos um ponto, colocamos um ponto de táxi mais para trás e o principal foi proibir todo o estacionamento ao longo da feira. Eu tenho depoimento de pessoas que demoravam uma hora e meia para chegar do Bonfim até o Comércio, e hoje chegam em 20 minutos. Esse congestionamento se estendia para a Barão de Cotegipe e hoje se resolveu o problema. De repente não resolveu totalmente, mas você melhorou 80, 90%. A gente tem buscado o que o secretário Aleluia chama de ‘acumputura humana’. Você pega aquele nozinho que está ali, resolve o problema e já consegue ter um reflexo no entorno. A gente tem que usar as ferramentas que temos. A gente está combatendo muito, em toda a cidade, essa questão do estacionamento irregular, que atrapalha e muito a fluidez do trânsito. Tem lugar que, se você tirar os carros da via, haverá outra fluidez no trânsito.
BN – Já há planejamento para proibir definitivamente os estacionamentos nas ruas? Tem um prazo para isso?
FM – Semanalmente estamos proibindo. A região da Orla, a Barra foi a primeira; Depois vieram Avenida Sete, Carlos Gomes e Miguel Calmon. A Rua Chile foi [atendida] na semana passada. Apesar de não ter grandes problemas de engarrafamento, mas você já consegue enxergar a Rua Chile. Na semana que vem, a Tancredo Neves será sinalizada em todo aquele miolo próximo à Casa do Comércio. Em todo aquele quateirão será proibido estacionar dos dois lados. Vamos fazer um trabalho de limpeza daquela área ali e pode ter certeza de que vocês sentirão o reflexo. Estamos com uma intervenção já planejada na Magalhães Neto. Eu tive a oportunidade de fazer alguns sobrevoos, com a ajuda do helicóptero da PM, em horários de pico, e temos observado algumas coisas pontuais. Nós vamos fazer uma intervenção ali. Vamos obrigar todos a irem pela Magalhães Neto. São duas tesouras ali, porque todo mundo que está entrando para o Costa Azul vem da Magalhães Neto, então você tem esse primeiro conflito, que é o motorista que quer ir para o Costa Azul e o que quer ir para a Magalhães Neto. Não adianta ficar estudando sem testar efetivamente. Vamos obrigar as pessoas a entrarem na Magalhães Neto e pegarem o primeiro retorno. Essas mudanças de fluxo de veículos serão experimentais, sem medo de errar. Se funcionar, ótimo. Se não, vamos retirar. Quem dirige em São Paulo sabe que se você quiser pegar o retorno, não tem um a cada esquina. Você tem que andar caso perca o retorno, mas pessoas têm a mania de querer fazer o retorno mais próximo. Fizemos isso na Bonocô e as pessoas estão reclamando. A gente fechou um retorno próximo a Le Biscuit e a pessoa é obrigada a ir lá embaixo retornar. Mas, o que a gente teve de resultado positivo no fluxo inverso da Bonocô já paga o desgaste da reclamação, porque conseguimos uma fluidez muito maior.
BN – Hoje há vários aplicativos para tentar driblar as blitze da Lei Seca. Como é a Transalvador tem trabalhado para tentar evitar que os motoristas driblem a fiscalização?
FM – Eu estive no Rio de Janeiro visitando a operação da Lei Seca. Lá, eles são mais profissionais. Não tem só o aplicativo Waze, por exemplo. Lá eles têm diversos aplicativos, inclusive na APP Store. Isso é um problema que ocorre em todos os lugares e é difícil de combater. Eu lamento que existam pessoas que façam isso, porque a finalidade da blitz é salvar vidas. A gente está ali porque entendemos que a blitz reduz enormemente o número de acidentes de trânsito. Existem pesquisas no Brasil que mostram que as operações, se bem feitas e feitas diariamente, têm resultado positivo. Havia essa cultura aqui de se fazer eventualmente, mas a gente esperou o carnaval e passamos a realizar as blitz diariamente. A gente entende que não se educa um filho segunda, quarta e sexta. A educação é permanente e, como a Lei Seca é uma política até de governo para reduzir acidentes, a gente entende que ela também tem que ser permanente.
BN – O secretário Aleluia anunciou o retorno de uma medida que até agora não foi implementada que é a Lei de Carga e Descarga. Já há algum prazo para que caminhões não transitem na cidade nos horários de pico?
FM – Tivemos algumas reuniões com o pessoal da Fieb para mostrar e receber sugestões, porque a gente quer que a Lei de Carga e Descarga funcione e seja possível fiscalizar. Não é a lei que vai resolver o problema de trânsito em Salvador, mas acreditamos que vai melhorar em alguns pontos sensivelmente. A minuta de decreto está pronta. Será passada para o prefeito para ser analisada e isso é para esse mês ainda.
BN – Já está combinado com as empresas? Da outra vez elas entraram com liminar…
FM – É esse o problema. Se a gente faz uma coisa sem dar uma possibilidade de todos se expressarem, tirando dúvidas, ou dando sugestões – não que essas sugestões vão ser acatadas integralmente, porque se acatarmos integralmente a gente acaba não tendo lei –, mas buscando flexibilizar um pouco, entendemos que não teremos esse tipo de problema. Por outro lado, a gente não pode criar muita flexibilização, senão você atrapalha até o trabalho do agente no campo. Se você cria muitos detalhes, você começa a inviabilizar. Então, fizemos um decreto bem enxuto, bem objetivo e esse decreto será seguido de portarias, porque quando ele sair não falará de nenhuma área e de nenhuma via específica. A gente terá 30 dias para a Transalvador sinalizar e baixar as portarias das vias. E esse decreto não será apenas de carga e descarga, mas também de restrição de circulação. Não adianta liberar a carga e descarga, se os veículos continuarem circulando nos horários de pico. Vamos ter horários de restrição à circulação, que serão de 6h às 9h e de 16h às 20h.
BN – A restrição será até mesmo para pequenos caminhões, tipo baú?
FM – Existe o VUC, que é o Veículo Urbano de Carga. Ele é um veículo menor e causa menos transtornos. Esse é o único ponto que estamos tentando afinar. O VUC entra no período de restrição à circulação ou libera? Existe um problema aí. Se liberarmos carga e descarga, o VUC vai ser liberado durante o dia? Mas se não for permitida a circulação de 6h às 9h, ele só poderá sair da garagem a partir das 9h e só entregará a carga depois desse horário? Estamos tentando afinar para também não prejudicar o comércio.
BN – Você veio de São Paulo, mas já mora em Salvador há 21 anos. O secretário Aleluia disse ser contra o rodízio de placas. Você pessoalmente como superintendente de trânsito não acredita que isso poderá ajudar na circulação de carros na cidade?
FM – É uma solução extrema e uma solução que você acaba beneficiando ainda mais um problema que já existe aqui, que é o aumento da venda de carros. Existem estudos que mostram um aumento no número de carros após a implantação do rodízio. Muita gente acaba comprando outro carro com placa diferente. Estamos tentando evitar porque não é uma solução definitiva e mostra a falência da cidade no que diz respeito ao ordenamento. Salvador tem um grande problema hoje que as pessoas não podem deixar de considerar, que é o número de veículos. Nos últimos dez anos dobrou o número de veículos: de 450 mil passou para 900 mil. Hoje você tem uma média de 250 mil veículos que passam por dia na Avenida Paralela. No entanto, as vias continuaram iguais. A estrutura e o planejamento não contaram com grandes mudanças para comportar essa quantidade de veículos.
FM – O trânsito de Salvador tem jeito? Fabrizzio Müller vai conseguir algum avanço? Se compromete em resolver parte disso?
BN – Compromisso eu tenho desde o dia em que o secretário me convidou para essa missão. Tenho trabalhado 14 horas por dia buscando tecnologia, soluções de intervenções e de engenharia para conseguir melhorar o trânsito de Salvador, a terceira maior metrópole do país. Em nenhum lugar você está livre do engarrafamento. O engarrafamento é uma realidade do Brasil. O nosso transporte público é deficiente, obriga as pessoas a andarem de carro e as nossas vias não estão preparadas para essa quantidade de veículos. Outro problema grave em Salvador é a educação do motorista. O motorista tem na mão dele uma parte da solução do trânsito. Se ele não fizer a sua parte, as coisas se tornam difíceis. Mas estou confiante que, nessa gestão, o trânsito vai melhorar. As pessoas vão começar a sentir isso. Em alguns pontos as pessoas já começaram a sentir, mas no geral não houve esse sentimento de melhora. Tenho certeza de que conseguiremos fazer uma coisa boa. Sou cidadão e estou lutando por isso. Tem jeito, mas não é da noite para o dia. Não será em seis meses ou em um ano. O trânsito é dinâmico, complexo. As pessoas têm que ter um pouco de paciência, mas ele irá melhorar sim.
Fonte:
http://www.bahianoticias.com.br/principal/entrevista/305-fabrizzio-muller.html
na TRANSALVADOR tem poucos agentes na rua, pq a metade fez concurso para agentes e estão na area administrativa. Quem que rever esta situação local de agente e na rua.