Número de greves no país em 2012 é o maior em 16 anos

O Brasil teve em 2012 o maior número de greves dos últimos 16 anos,
segundo o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos). Foram 873 ocorrências, número que não era alcançado
desde 1996, quando a pesquisa identificou 1.228 greves. Em relação a
2011, o aumento foi de 58%.

O Dieese contou 87 mil horas paradas no ano passado, maior nível desde
1990, ano em que os trabalhadores acumularam 117 mil horas de greve. As
principais reivindicações foram reajuste de salário e introdução,
manutenção ou melhoria do auxílio alimentação (veja tabela abaixo).

Principais reivindicações                   (% do total)

Reajuste salarial                                  40,7
Alimentação                                  26,9
Plano de Cargos e Salários                                  23
Participação nos lucros                                  19
Salários atrasados                                  18,3
Piso salarial                                  16,2
  • Os números somam mais de 100% porque na mesma greve pode haver mais de uma reivindicação. Fonte: Dieese

Os dados incluem as paralisações, que os pesquisadores chamam de “greves
de advertência”, aquelas que são iniciadas já com data para terminar e
normalmente duram um dia.

Ao contrário do que se poderia pensar, o aumento do número de greves,
neste momento, não está relacionado à piora do mercado de trabalho, mas
justamente ao oposto disso. Com o desemprego em baixa, os assalariados
se sentem mais seguros para se manifestar. Do outro lado, os
empregadores têm mais dificuldade de substituir seus funcionários.

Essa tese fica evidente quando se olha para os resultados alcançados e
para as reações das empresas. No balanço do Dieese, nota-se que a maior
parte das reivindicações (75%) foi atendida pelo menos parcialmente, ao
mesmo tempo em que medidas patronais como desconto de salário ou ameaça
de demissão foram mínimas (8% do total).

Em outras palavras, o poder de barganha dos assalariados aumentou, fato
que é reforçado também por uma outra pesquisa do Dieese, segundo a qual
95% das negociações coletivas de salários no ano passado terminaram com
reajuste acima da inflação. Em 2003, apenas 19% delas tiveram esse
resultado.

“Gente que antes não fazia greve porque tinha sensação de insegurança
com o emprego, agora está fazendo. Se os salários atrasam, os
trabalhadores param mesmo”, disse Rodrigo Linhares, do Dieese.

Setor privado lidera – Os empregados do setor privado fizeram
mais greves (53% do total) e foram mais bem sucedidos. Nesse segmento,
85% dos movimentos foram ao menos parcialmente atendidos e em menos de
2% os pedidos foram inteiramente rejeitados. Ainda no setor privado,
quase 30% das greves terminaram com o compromisso de que as negociações
prosseguissem após a volta ao trabalho, como indica a tabela abaixo.

Greves nos setores público e privado

Resultado Setor privado  Serviço público Estatais Total
Reivindicações atendidas integralmente 32% 16,4% 0% 25%
Reiv. atendidas parcialmente 52,8% 46,8% 47,6% 50,2%
Reiv. rejeitadas 1,6% 11,9% 4,8% 5,6%
Prosseguimento das negociações 29,8% 39,3% 47,6% 34%
  • Fonte: Dieese


As colunas somam mais de 100% porque algumas vezes as reivindicações são
parcialmente atendidas durante a greve e, ao mesmo tempo, os
empregadores dão prosseguimento às negociações após a volta ao trabalho.

O estudo também mostra que a reação dos empresários foi menos incisiva
do que a das autoridades públicas. Apenas um terço dos casos registrados
no setor privado foi parar na Justiça; no setor estatal, a proporção
foi de 41%.

Investimentos – O fato de os assalariados terem obtido sucesso
nas negociações coletivas de salário representa uma conquista no curto
prazo. A dúvida é se tal situação é sustentável por um período mais
longo.

Para que as empresas paguem bem aos funcionários e se mantenham
competitivas, é necessário que a produtividade acompanhe os reajustes
salariais. Do contrário, as companhias podem perder espaço no mercado
internacional.

O governo cortou impostos sobre a folha pagamento de diversos setores,
mas essas medidas não foram suficientes, pelo menos até o fim do ano
passado, para estimular os empresários a investirem mais. Ao contrário,
ao mesmo tempo em que os empregados conseguiram reajustes acima da
inflação, os investimentos caíram de 19,3% do PIB (produto interno
bruto), em 2011, para 18,1%, em 2012.

Fonte:
http://achadoseconomicos.blogosfera.uol.com.br/2013/05/23/pais-tem-maior-numero-de-greves-dos-ultimos-16-anos-diz-dieese/

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