Salvador já tem em média um carro por família

Se todos os veículos registrados na capital baiana fossem distribuídos igualitariamente entre a população, cada família (considerando-se uma média de cinco pessoas) teria um veículo. Isto é o que revela o cruzamento dos dados da frota dos automóveis de passeio de Salvador com o número de habitantes estimados no último censo (2010).
Segundo os indicadores mais recentes do Detran-BA, em fevereiro havia aproximadamente 580 mil veículos de passeio registrados na capital baiana. Considerando que a população soteropolitana já beira os 2,7 milhões, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), já existe um carro registrado para cada 4,68 pessoas.
Boom automotivo – O crescimento dos veículos registrados na cidade é expressivo: em 2010, a taxa era de 5,39 habitantes para cada carro. Um ano depois, a taxa cairia para 5,03. Quanto menor o resultado, maior é o número de carros em relação à população.
De acordo com a engenheira de tráfego Cristina Aragón, a taxa de motorização não é tão alta quando comparada a outros centros urbanos. “Salvador ainda é uma cidade pobre. A taxa pode até ser alta, mas há cidades de médio porte que conseguem ter índices piores”, explica.
A taxa da cidade de São Paulo, por exemplo, é de 2,11. Ou seja, há um veículo de passeio para cada duas pessoas, o dobro quando comparado à capital baiana.
Esposa influenciou – Há cinco meses, o consultor técnico Danilo Araújo entrou nas estatísticas do Detran pela primeira vez. Segundo ele, a esposa foi a principal motivação para que adicionasse mais um veículo de passeio às vias soteropolitanas.
“Ela que insistiu. Eu trabalho perto e preferia não enfrentar esse trânsito todo. Pegar ônibus é complicado, mas como são só cinco quilômetros (entre a casa e o trabalho), vou até andando”, conta.
Ele reconhece, no entanto, que o automóvel é a alternativa mais viável na cidade: “É uma necessidade”. Danilo não é o único a optar pelo carro como solução de transporte.
Somente em janeiro deste ano, 1.668 motoristas fizeram o mesmo. Nos últimos quatro anos, a média foi de 30 mil novos veículos registrados no sistema do Detran a cada ano. Isso representou, entre 2012 e 2013, um crescimento de 5% na frota.
Contudo, o número de veículos que circulam efetivamente na cidade pode ser bem maior. Incluindo outras categorias de automóveis, como ônibus e caminhões, a frota atual gira em torno de 830 mil veículos. Além disso, ficam fora desta conta todos aqueles com placas de outros locais, em circulação na capital baiana.
Apesar do aparente impacto que o crescimento da frota tem no trânsito de uma cidade, especialistas alertam que os dados não devem ser avaliados como uma relação direta. A questão está na forma como é gerida a mobilidade urbana. No caso da capital baiana, os especialistas afirmam que há uma valorização do uso individual de transporte, em detrimento de coletivos.
Espaço limitado – “Em Salvador, o carro é um objeto de desejo. Muitas famílias têm como prioridade comprar automóveis. Contudo, a cidade tem limite de espaço, principalmente por ser litorânea. A capital chegará a um limite em um certo momento”, diz a pesquisadora do Centro de Estudos de Transportes e Meio Ambiente (Cetrama/Ufba), Denise Araújo.
Em horários de pico, com os imensos engarrafamentos, é muito fácil verificar a gravidade da situação. Segundo a Transalvador, na Avenida Paralela transita uma média de 20 mil carros por hora nesses momentos. “O que estamos vivendo é a realidade de uma opção equivocada”, diz Cristina Aragón.
Solução – Para evitar que a quantidade de veículos não interfira diretamente no trânsito da cidade, o ideal é desestimular o uso do transporte individual, segundo as pesquisadoras. E a solução poderia vir, por exemplo, no investimento em melhoria do transporte público e na diversificação dos modais.
Agora de carro, Danilo concorda: “O ideal para mim é que se aposte em ciclovias. Eu até já tentei ir de bicicleta para o trabalho. Mas é impraticável”, afirma.
“A população soteropolitana precisa se sentir atraída pelo transporte coletivo. Nós temos coletivos sem segurança, sem cumprimento de horários e com itinerários longos. É um conjunto de fatores que dificulta a migração do motorista de carro para o transporte coletivo”, explica Denise Araújo.
A pesquisadora aponta que, em levantamento de mobilidade urbana atualizado em 1998 já havia indicativos da necessidade de maior investimento no transporte público. Uma das alternativas seria o metrô, há 13 anos em construção em Salvador. “O metrô é uma tecnologia correta. No entanto, em Salvador, teve vários erros no planejamento e construção”, observou.
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