Terminais lotados refletem crise do sistema de ônibus

A partir da meia-noite de terça-feira, 18, os rodoviários de Salvador prometem paralisar as atividades por tempo indeterminado. A categoria reivindica aumento salarial de 15%, auxílio-alimentação de R$ 15 por dia e nas férias, assistência médica e odontológica para titulares e dependentes. Além disso, motoristas e cobradores reivindicam a redução da jornada, de 7h para 6h, sem decréscimo do salário. Em contrapartida, empresários ofereceram reajuste de 5,84%, o que não foi aceito pelos trabalhadores.
Em meio ao desentendimento entre rodoviários e empresários, o usuário sofre com a má qualidade do serviço. Filas extensas nas estações, veículos precários e longa espera nos pontos de ônibus revelam um cenário de crise no sistema de transporte público da capital baiana.
Tal situação é atestada diariamente pelos usuários do sistema, que conta com uma frota de ônibus formada por 2.819 veículos, para atender a uma demanda de 1,2 milhão de passageiros por dia.
No terminal – O relógio marca 6h e o movimento na Estação Pirajá já é intenso. Nas paradas, filas extensas, que mais parecem não ter fim. No rosto dos passageiros, revolta. Nos ônibus, pessoas lutam para garantir um mínimo espaço.
No local onde 130 mil pessoas circulam por dia, a batalha pode começar horas antes da chegada ao trabalho. A operadora de telemarketing Georgina Arouca, 32, que mora em Cajazeiras XI, só inicia sua rotina de trabalho às 9h. No entanto, precisa chegar ao ponto de ônibus por volta das 5h, para evitar atrasos na empresa onde trabalha, no bairro do Comércio.
Esse é só o início da via crucis de Georgina, que precisa pegar dois ônibus, na maioria das vezes lotados. Na volta para casa, o transtorno se repete, dessa vez com um agravante: o perigo das ruas à noite. O saldo, no final do dia, é sempre o mesmo: cansaço, preocupação e menos R$ 11,20 no orçamento.
“Costumo dizer que passo mais tempo à espera do ônibus e no trânsito que no trabalho. Pagamos tão caro, é muito humilhante”, disse.
O sentimento de revolta é compartilhado pelo aposentado Edvaldo da Conceição, 50, deficiente físico. Sempre que precisa ir ao médico, no Centro, depara-se com um obstáculo: subir os quase 300 degraus que dão acesso à Estação da Lapa, onde cerca de 460 mil passageiros transitam diariamente.
Com muita dificuldade, Edvaldo se equilibra em duas muletas. Em uma certa altura da escada, onde a água da chuva e o lixo se acumulam, chega a se desequilibrar. “Se eu pudesse, jamais usaria essa estação. Ela não é adequada para ninguém”, disse.
Cansada de passar tantas horas nos congestionamentos, enfrentar ônibus sempre lotados e pagar caro pela passagem, a auxiliar de saúde Jucília Bispo dos Santos, 52, optou por percorrer, a pé, cerca de 7,5 km, do São Gonçalo, onde mora, até a Barroquinha, onde trabalha.
Embora assuma ser um trajeto cansativo, a auxiliar de saúde diz que não se arrepende da decisão. “Caminhando, enfrento dificuldades, como passeios quebrados, iluminação precária e falta de segurança. Ainda assim, está sendo mais prazeroso fazer esse trajeto andando”, disse.
Fonte:

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*